O desafio de viver
Não há nada para explicar, simplesmente é impossível aceitar a morte de um filho. Filho bom ou mau, mocinho ou bandido, que faz o coração bater ou a pressão subir, novo ou velho, saudável ou doente. Filho é filho.
Mas, às vezes, contra tudo que é mais natural nessa vida e por um mistério ainda não desvendado, o filho morre antes dos pais e deixa dois corações despedaçados.
É possível continuar vivendo sem um coração inteiro? É possível continuar sorrindo sem um coração que bate mais alto? Sim, para algumas pessoas isso é possível.
Um exemplo é Nice, chamada carinhosamente de Ninha, uma passageira da Ecobus, que conseguiu sobreviver à tamanha tragédia.
No seu caso, a luta começou quando seu filho tinha apenas 14 anos e se envolveu no mundo das drogas.
Noites e noites acordada, muitas vezes, vagando pelas ruas em busca do filho, quando tinha sorte e conseguia localizá-lo, às vezes era preciso levá-lo no colo até em casa porque estava muito fraco, quase sem consciência.
- Mãe, eu prefiro morrer a te ver tão triste por minha causa, dizia o filho de Ninha em seus momentos de lucidez.
Mas, para essa mulher a morte não estava em questão, mesmo sabendo que convivia lado a lado com essa inquilina indesejada.
O seu filho, viciado em crack, chegou a pesar 34 kg e foi internado diversas vezes em clínicas de reabilitação.
Há 4 anos, no dia 7 de julho, aconteceu o inconcebível. Seu filho não voltou para casa, mas a notícia de sua morte chegou rápido.
Ele foi assassinado aos 21 anos por ter se envolvido com a ex- namorada de um outro viciado em drogas. Após 25 dias, o assassino também foi morto.
Duas vidas. Duas famílias com o coração partido.
Após três dias da morte de seu filho, Ninha já estava trabalhando. Viúva, ela é arrimo de família, tem muitas pessoas que dependem da sua força. Mãe, filhos, neto...
- Quando o meu filho era vivo eu passava noites e noites acordada, preocupada, sem saber o que poderia estar acontecendo. E quando ele morreu, eu não conseguia me perdoar por conseguir dormir. Como eu poderia dormir com um filho morto?
A explicação veio apenas com o tempo. Durante 1 ano, Ninha não conseguiu falar sobre essa tragédia com ninguém.
A vida pode estar mais cinza e talvez permaneça assim por um longo tempo..., mas para pessoas como Ninha a felicidade não é uma opção, mas um desafio.
- Eu sempre penso que ele está protegido, não vai poder fazer mal a si próprio e ninguém vai machucá-lo. Esse pensamento é a forma que encontrei para continuar vivendo.
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