segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os monstros do passado


Há alguns dias, eu estava em uma festa conversando com um colega sobre arte, amigos, infância, até que, não sei se fui eu ou ele quem começou, mas passamos a falar sobre política.
Consciente de que este assunto costuma ser um campo fértil para discussões acaloradas, adotei a postura neutra de sempre, que consiste em apenas concordar, sem insistir ou questionar até que o assunto se esgote.
Enquanto o outro fala, eu observo, espero por uma brecha e mudo de assunto.
Se isso parece pouco educado da minha parte, pior na minha opinião é começar uma discussão sem precedentes e estragar um momento feliz.
Até que...

- "As pessoas desta cidade sentem medo de se expor, deixam de ir a certos lugares para evitar comentários de que apoiam esse ou aquele grupo político. Eu não sou assim, faço o que eu quero", disse, arrebatado.

Na hora, aquilo me soou meio prepotente.

- "Mas, tudo tem o seu preço", disse eu, querendo colocar logo um ponto final no assunto.

Mas, ele insistiu...

- "Eu sempre paguei as minhas contas, meus filhos estudam em escola particular e
têm planos de saúde..."

Ele levantou da mesa de sopetão e me deixou ali, me sentindo o cocô da cueca do bandido.
A festa acabou para mim, amarrei a cara e logo fui embora. Fiquei revendo a cena na minha cabeça e questionando por que não o chamei de volta...

-... Volta aqui, está pensando o quê, não pode falar isso e sair andando...”, Porém, alguma coisa me deteve e isso estava me deixando doida.

Em casa repassei a conversa para tentar descobrir porque aquele comentário mexera tanto comigo e lembrei uma época em que adorava discutir sobre política.
Até que eu fui longe demais e de fato me perdi, me transformei em uma pessoa totalmente diferente, pior, que só pensava em vencer a qualquer custo.
Graças a Deus, não venci. A derrota foi a melhor coisa que me aconteceu. Lógico que não percebi isso imediatamente.
E não foi fácil retomar a minha vida, precisei aprender a me perdoar pelos excessos cometidos e também conquistar o perdão da minha família, que até ali tinha ficado em segundo plano.
Eu errei, não é fácil admitir isso.
Depois dessa experiência, me afastei da política, até que o meu colega me confrontou e, sem querer, me fez recordar do meu erro. Os monstros do passado adormecem, mas não morrem nunca.
Da mesma forma que, ao recordar esses erros, percebi que já não me sentia tão culpada. Afinal, o tempo passa e tudo se transforma em lembranças inofensivas. Os monstros vivem no escuro, não suportam a luz.
Se o meu colega tivesse  me dado oportunidade eu teria explicado que, quando me referi ao preço que se paga por lutar por um ideal, não estava me referindo a bens materiais.
Eu estava falando sobre algo mais valioso para mim, a perda da paz de espírito e do tempo em família.
Estava me referindo às festinhas da escola em que cheguei atrasada, das noites em que chegava em casa e meus filhos já estavam dormindo, e de tantas outras coisas de que abri mão só para descobrir depois que essas outras coisas eram tudo o que de fato me importava.
Mas, julgando pela atitude do meu colega, talvez, eu também sem querer tenha despertado alguns monstros que estavam dentro dele.
Esses monstros do passado sempre voltam para assombrar, saravá!





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