América Central - Panamá
Cidade do Panamá vista de Casco Viejo
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O Panamá é mais
conhecido pelo seu canal, considerado uma das sete maravilhas do mundo moderno,
uma obra de engenharia fantástica que une os oceanos Atlântico e Pacífico,
construído para que as embarcações pudessem cruzar de um lado a outro sem
precisar dar a volta em toda América, mas quem decide conhecer um pouco mais do
lugar pode se surpreender.
A viagem do
Brasil até a capital panamenha demora 7h00 e quando eu e o meu marido descemos
do avião, com o céu nublado, a temperatura atingia 33º, o calor e a umidade
logo dão as boas vindas.
Eu já tinha
lido que é comum no Panamá os taxistas levarem na mesma viagem passageiros que
mal se conhecem, por isso não foi surpresa quando o motorista perguntou se existia
problema em dividir a viagem com outro senhor.
Eu pensei
que seria a oportunidade para aprender um pouco mais sobre a cidade, mas o
“estranho” não desgrudou do celular durante todo o trajeto. Aff!. Do aeroporto
até o Novotel Panamá City, no bairro
chamado El Cangrejo, o taxista cobrou U$ 35,00.
No entanto,
anote a regra número 1: se você vai
ao Panamá, sempre brigue por um bom preço para o táxi, não aceite o primeiro
valor que queiram cobrar. De U$ 35,00 nosso táxi saiu por U$ 30,00.
Apesar de não
falar muito bem o inglês, o motorista que se chamava Juarez era um cara
simpático. Além de trabalhar no aeroporto, nos contou que também trabalhava
como bombeiro e ainda estudava para ser operador de voo.
Com um
currículo como esse, ele pareceu uma pessoa confiável e fechamos um pacote para
o dia seguinte. Sairíamos cedo para conhecer o máximo possível da capital
panamenha pelo preço de U$ 130,00, contando ainda com o retorno para o
aeroporto.
Na primeira
noite, nós jantamos em um restaurante bastante popular na cidade, chamado El Trapiche, localizado na Via
Argentina, apenas 3 minutos de caminhada do nosso hotel.
Para iniciar
a noite, pedimos o tradicional cevice e em seguida saboreamos pratos de peixe e
camarão, acompanhados da gelada cerveja Panamá (uma delícia!). O preço da conta
U$ 40,29. Nada mal.
Com
disposição, decidimos seguir para a “Churreria
Manolo” para provar os churros que fazem sucesso na cidade desde 1972.
Fiquei surpresa ao perceber que não tinha muita opção de sabores: Manjar Blanco
(doce de leite, vai entender?) ou manzana (maça, rsrs). Não foi um UAU, mas
valeu!
E, depois
de uma noite perfeita, no dia seguinte estávamos prontos para conhecer a
capital panamenha. Na hora marcada, o taxista estava nos esperando em frente ao
hotel.
Não demorou
muito para perceber que o trânsito no Panamá é um território sem lei. Os
motoristas buzinam, param no meio da rua, ignoram setas, disputam vagas nos
estacionamentos de forma selvagem e dirigem como se tivessem em uma guerra.
Por isso, regra número 2: Não alugue carro.
Sempre vá de táxi.
Primeira
parada do dia foi nas Eclusas de
Miraflores, onde para entrar nós pagamos U$ 15,00/ pessoa.
O local
estava repleto de turistas e dei graças pelo tempo estar nublado, do contrário
não seria agradável estar ali tentando encontrar um pequeno espaço na multidão
para observar as operações dos navios.
Segundo o
nosso guia, naquele dia nós demos sorte porque justamente no momento da nossa
visita tinham dois navios atravessando o canal e mais o veleiro, assim pudemos
acompanhar o movimento das comportas e o nivelamento das águas. O horário da
visita: segunda a domingo, das 9h00 às 16h30.
A
arrecadação do canal é responsável pela maior parte do orçamento do país, para
ter uma ideia um veleiro chega a pagar U$ 800,00 pela travessia. Imagine um
navio. Agora imagine vários deles em um único dia.
O Centro de
Atendimento ao Turista é um espaço muito bem organizado, com um museu bastante
interessante, que possui 4 andares, além de contar um pouco sobre a história da
construção, revela a riqueza da fauna e da flora existentes no local.
Também é um
lugar divertido, com ambientes lúdicos, em um deles a sensação era de estar na
cabine de um navio em plena travessia, sentindo o balanço do mar enquanto as
eclusas abriam e fechavam.
O segundo
lugar que visitamos foi Pueblito, onde
pudemos conhecer um pouco sobre o modo de vida dos antigos camponeses do
Panamá.
Durante o
passeio, fiquei impressionada ao saber que as roupas usadas pelas mulheres nos
festivais típicos da cidade, chamadas de La Pollera, pode demorar até um ano
para ser confeccionada e que a mais barata não sai por menos de U$ 5 mil.
Além das
roupas, que lembram muito os trajes das mulheres espanholas, os acessórios são
muito importantes. Os colares, por exemplo, revelam um pouco sobre a vida da
mulher: a sua religião, estado civil, entre outros, sem contar os adereços de
cabeça, com flores, pedras preciosas, uma beleza.
Nós
caminhamos por uma espécie de museu aberto, uma sala de aula com móveis de
1600, a casa típica com quarto e cama de lona, cozinha com forno para pão e
tortilhas, o trapiche para fazer caldo de cana. O altar de uma igreja, com teto
todo enfeitado com bambu. Nós não conhecemos a parte da história indígena por
falta de tempo.
Pueblito
está aberto de terça a domingo, das 10h00 às 22h00. A entrada é U$ 5,00.
Ali também
tem algumas lojinhas de artesanato, aproveite para dar uma espiada. O preço não
é lá grande coisa, mas anime- se para negociar.
Regra número 3: No Panamá tudo tem dois preços. Eu não gosto
de barganhar preço, principalmente com vendedores de artesanatos, mas lá é
quase obrigatório.
Passeamos
de carro pela Amador Causeway, uma
estrada à beira mar, com diversos restaurantes e marinas. Ali também está o
Duty Free.
Para
almoçar, optamos por conhecer o Mercado
de Peixe. É um mercado local, onde os moradores compram mariscos e peixes.
Em frente
do mercado, ficam as barraquinhas de comida. Nosso guia escolheu onde
almoçaríamos e ficamos aliviados por ele conhecer o lugar já que o visual não
pareceu muito limpo.
No entanto,
limpo ou não, o cevice estava uma delícia, assim como o prato de pescado
(corvina) com arroz de coco. Super bem servido, um prato facilmente daria para
dois. Experimente também o pescado com patacon (banana verde frita).
Durante o
almoço, o nosso guia explicou um pouco sobre a situação do Panamá que, segundo
ele, oferece boas oportunidades de negócios e está em pleno desenvolvimento.
Ele é filho
de pai americano, mas disse que não sente vontade de ir morar nos EUA.
- Somos
todos americanos, se moramos na América Central, Sul ou Norte é um detalhe.
Eu
concordei com ele, ciente de que o detalhe na prática representa um enorme
abismo cultural, social e econômico.
Olhando
pela janela do carro enquanto percorríamos a cidade, cá e acolá, olhando as
casas dos bairros mais ricos, a arquitetura da parte nova da cidade, como a Cinta Costeira, um calçadão frequentado
por quem pratica esporte ou deseja relaxar, eu pude sentir a forte influência da
terra do Tio Sam no Panamá.
Não podemos
esquecer que até 1999 os Estados Unidos mantiveram o direito de controlar as
operações do canal e muitos americanos se mudaram para o país com suas famílias.
Hoje isso é feito pelo governo panamenho.
O Panamá é
um país cheio de contraste e isso pode ser visto principalmente nas ruas.
Um exemplo
são os “Diablos Rojos”, os ônibus tradicionais,
bem antigos, pintados com cores fortes e decorados com luzes, que ainda marcam
presença nas avenidas e ruas da cidade, disputando espaço com os ônibus modernos,
com ar condicionado.
Apesar do
nosso guia insistir que já não existem muitos “Diablos Rojos” no país, não foi
isso que eu percebi. Eu adorei fotografá-los e comprei até uma miniatura.
Também
chamou a minha atenção os uniformes das colegiais, saias compridas e camisas
fechadas, eu fiquei pensando o que a minha filha acharia de se vestir assim
para ir à escola, no mínimo, consideraria antiquado.
Sem contar,
os lindos trajes tradicionais que muitas mulheres panamenhas ainda desfilam
pelas ruas. Eu gostei de saber que o life style americano não contagiou a todos
e que parte da cultura do Panamá está preservada.
Eu pensava
sobre isso quando seguimos para Casco
Viejo, o centro histórico da capital panamenha, e estacionamos em frente à
Praça Simon Bolívar.
Foi um pouco difícil chegar até lá, o nosso taxista se perdeu e, de repente, estávamos fazendo um tour por El Chorrillo, um bairro considerado perigoso até pelos locais.
Depois do
susto inicial, passei a prestar atenção no que estava vendo e foi interessante
porque pude perceber novamente o choque de universos tão próximos e ao mesmo
tempo com anos luz de distância.
Casco Viejo
é limpo e organizado, com pessoas bem arrumadas, os “gringos”, e protegido
pelos “policiais da presidência” já o outro, El Chorrilo, bem ao lado, com
casas velhas, ruas feias e policiais, mas dessa vez fazendo blitz à procura de
drogas ou outras coisitas ilegais.
Casco Viejo
é um lugar charmoso, com lojinhas, restaurantes e hotéis. Nós caminhamos por
uma rua coberta de flores para ver as barraquinhas de artesanato. Ali comprei o
meu chapéu Panamá e também algumas lembrancinhas para a família.
Durante o
passeio em Casco Viejo nós conhecemos o Denis, um brasileiro que está dando a
volta ao mundo coma sua noiva colombiana. Ele iniciou a sua viagem a partir de
Ilhabela. Pra se virar, ele disse que vende artesanato, cozinha nos barcos e
até canta.
Ele mostrou
uma pasta com fotos ao lado de algumas personalidades da televisão. Ele já
tinha sido entrevistado por alguns canais, foi um momento feliz. Uma figura.
Decidimos ajuda-lo com uma quantia, afinal não é todo dia que encontramos
alguém tão livre de amarras. Ganhei uma flor.
Eu queria
ter voltado no dia seguinte para conhecer mais essa região, a Praça da
Catedral, o Altar de Ouro e circular um pouco mais pelos cafés e lojinhas, mas
não foi possível.
Depois de
um dia intenso, só faltava uma coisa: comprinhas! Afinal, o Panamá é reconhecido
como uma zona de livre comércio, com preços muito interessantes.
Nós fomos
ao Albrook Mall, o maior centro
comercial da cidade do Panamá. Eu me perdi um pouco e deixei o maridão preocupado.
No último dia da nossa viagem ao Panamá, ainda conhecemos o Shopping Multiplaza, com uma atmosfera
trè chic.
Para quem
pretende continuar viagem para os Estados Unidos, eu acho que não compensa
fazer as compras do Panamá. Os preços são bons comparados ao Brasil, mas perdem
quando comparados a Miami ou Orlando.
No dia de
ir embora, o nosso guia não apareceu na hora marcada para nos levar ao
aeroporto.
Mas, ao invés
de ser um aborrecimento, esse fato serviu para que conhecêssemos a Cornélia,
taxista que também é uma jovem mãe solteira de um ninõ de apenas 1 ano e que
adora conversar.
Ela nos
contou que o seu sonho é conseguir um trabalho no Canal do Panamá por causa do
salário, algo em torno de U$ 1.300,00, considerado bom para os padrões do país
e também pela estabilidade.
Apesar de
dominar o inglês, Cornélia disse que até agora só tinha recebido propostas para
receber U$ 600,00 e que isso não pagava as despesas, o que a obrigava a deixar
o filho aos cuidados da mãe e continuar a batalha pelo trânsito da cidade.
Por
segurança, ela só atende os passageiros dos hotéis e quando conversamos estava
com esperança de que a indústria do turismo no Panamá fosse crescer para que a sua
renda aumentasse enquanto o seu sonho não se realiza.
Eu senti
durante as conversas com os moradores que eles acreditam no país e isso é
reconfortante.
O Panamá é
um país estratégico em termos de desenvolvimento mundial, é possível mesmo que
no futuro todos os Juarezes e Cornélias consigam ver os seus sonhos
realizados.
Volto ao
Panamá? Um dia, talvez daqui a alguns anos, por curiosidade.
Eu quero
saber se país será generoso com o seu povo e preservará a sua tradição, será
que os “diablos rojos” ainda estarão circulando e encantando com suas cores
berrantes?
Ou será que
vou encontrar um país moderno, bonito, mas sem a essência que o distingue dos
demais?
Principalmente,
será que o Panamá ainda estará lá do jeito que eu guardo na minha memória?
Espero que sim. Nem tudo precisa mudar.
Vídeo da travessia de um navio nas eclusas de Miraflores:
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