É difícil perceber o momento em que os filhos deixam de ser uma extensão de nós e passam a pensar sobre as suas vidas de forma independente.
Ontem, sem maior explicação, o meu filho caçula me perguntou:
- Mãe, você está me criando para o mundo?
- Claro, respondi de pronto.
- Tem certeza, né? Porque um dia você vai ter que me deixar ir...
Eu expliquei que o deixaria ir quando ele estivesse pronto para enfrentar o mundo, ou seja, depois que tivesse concluído a faculdade e adquirido um pouco mais de malícia diante das maldades e...blá, blá, blá.
Essa conversa me fez refletir e a única explicação é que existem alguns pais, como eu, que ficam meio abobados quando pensam sobre os seus filhos e muito inseguros também.
Digo isso, olhando para o meu umbigo.
Eu falei centenas de vezes que criei os meus filhos para o mundo. Não à toa fui cobrada sobre isso agora.
Mas, de qual mundo eu estava falando?
Certamente não é deste mundo em que vivemos, em que um menino de 6 anos sai de casa para brincar de bicicleta e depois é encontrado sem vida, morto a pauladas, em um terreno baldio.
E isso aconteceu em uma comunidade pequena, onde a maioria das pessoas se conhece. Imagine as tantas crianças vítimas de violência que existem neste vasto mundo!
É difícil não ficar sensibilizada com uma história como essa e compartilhar a dor da família. E, logo vem o pensamento: - Poderia ser o meu filho!
Mas, apesar do medo, aceitando ou não, enquanto não descobrirmos uma forma de como viver em Marte ou outro lugar da galáxia, nós temos que continuar nos virando neste planeta chamado Terra.
Gente, como eu, não quer abrir mão dos filhos porque se fizer isso, pensa:
- O que pode acontecer? Ou melhor, o que pode me acontecer?
Sim, porque quem tem filhos sabe o quanto dói o sofrimento deles. Dói duas vezes, dói ainda mais. É mais dolorido do que qualquer perda que a gente possa ter.
Nós sofremos somente em pensar que eles possam sofrer.
Mas, toda história de amor sempre tem dois lados, neste caso, os nossos filhos.
Eles são, sem dúvida, a causa das nossas grandes neuroses, mas são responsáveis por elas?
Ah, coitados, é claro que não.
Sempre quando bate aquela insegurança... eu tento superá-la pensando em como posso esperar que os meus filhos sigam em frente, conquistem o mundo, se deixá-los com medo de viver e, em algum momento, de me fazer sofrer?
De fato, muitos filhos adiam suas decisões, abrem mão da felicidade com medo de fazer os pais sofrerem. Eu quero isso para os meus filhos? Não, eu quero que sejam livres para fazerem as suas escolhas.
Mesmo que minha vontade seja mantê-los junto a mim, tento me lembrar de que um pássaro que mora em uma gaiola deixa de cumprir a sua missão na terra e sempre sonhará com a liberdade.
Uma gaiola bonita, confortável ou segura ainda é uma prisão.
Isso tudo é tão racional, tão bonito, mas onde fica o coração nesta história?
Por mais que possa doer (e dói) é preciso aceitar que cada um tem o seu destino porque tentar brigar contra isso machuca mais do que deixar fluir.
O menino quer voar? Só resta rezar para que as suas asas sejam tão fortes quanto o meu amor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário