A Mata Atlântica é um lugar especial, mas oferece perigos, por isso, quem decide fazer trilhas ou caminhar em busca de cachoeiras deve ficar atento e tomar alguns cuidados para não ter uma experiência ruim como, por exemplo, ter um encontro desastroso com animais selvagens e peçonhentos.
Em São
Sebastião, existem várias opções de trilhas, basta consultar o site da
Prefeitura: http://turismo.saosebastiao.sp.gov.br/.
Foi de lá que eu peguei essas fotos que ilustram alguns caminhos pela Mata
Atlântica.
Para dar algumas dicas sobre os cuidados que devemos tomar e como agir nessas situações, eu convidei a médica veterinária, Fabrícia Medeiros, especializada no tratamento de animais silvestres, para um bate papo aqui no Blog. Atualmente, ela trabalha na Fundação Animália, em São Sebastião, onde convive com onças jaguatiricas, gato do mato, tamanduá bandeira, cachorros do mato, capivaras, macacos prego, além de aves marinhas, pinguins, lobo guará, corujas, gaviões e outros mais.
A Fabrícia
se formou na FAEF-FAMED (Faculdade de Medicina Veterinária de Garça-SP), em
2007, e durante toda a graduação, dedicou-se a estudar os animais silvestres, fazendo
estágios no Zoo de Sorocaba e no CEMPAS (Unesp de Botucatu) onde conviveu e
aprendeu muito com os melhores médicos veterinários do país. Para dar algumas dicas sobre os cuidados que devemos tomar e como agir nessas situações, eu convidei a médica veterinária, Fabrícia Medeiros, especializada no tratamento de animais silvestres, para um bate papo aqui no Blog. Atualmente, ela trabalha na Fundação Animália, em São Sebastião, onde convive com onças jaguatiricas, gato do mato, tamanduá bandeira, cachorros do mato, capivaras, macacos prego, além de aves marinhas, pinguins, lobo guará, corujas, gaviões e outros mais.
“Sou apaixonada pelo meu trabalho, o que eu mais gosto de fazer é ir a uma mata/rios/praias e observar os animais de vida livre, fico admirada com tanta beleza e pureza... a natureza é perfeita!”, diz.
Encantes – Durante o tempo em que você trabalha na Animália, qual foi o maior aprendizado?
Fabrícia - O que mais aprendi foi lidar com os altos e baixos. É muito triste você receber um papagaio cego porque os traficantes perfuraram o olho dele. A ave fica cega, muito triste e depois morre de depressão. Isso acontece muito. Tristeza e depressão matam os animais. Um papagaio vive mais de 50 anos e, normalmente, os donos morrem e a ave fica para os filhos, mas tem casos em que os filhos não querem o papagaio e o entrega na polícia ambiental (entrega espontânea). O papagaio fica tão triste de ter saído daquela família, entra em depressão e não come, muitas vezes tenho que ficar falando com ele, cantando, tentando animar pra que ele coma um pouquinho e muitas vezes eles vêm a óbito por tristeza. Mas também é maravilhoso receber animais que você tem um prognóstico ruim e depois você vê esse animal indo pra soltura, não tem dinheiro que pague isso! Você sentir o quanto o seu trabalho é importante e especial. Eu vejo a gratidão nos olhos deles, como se eles me dissessem: MUITO OBRIGADO! SEM VOCÊ EU NÃO SOBREVIVERIA. Aprender a lidar com os altos e baixos, sem dúvida, foi o mais importante que eu aprendi. Já chorei por tristeza, pelo sofrimento do animal, mas chorei muito mais de alegria e de satisfação pelo trabalho realizado com sucesso.
Encantes – Muitas pessoas tem medo de certos animais por desconhecimento. No verão, alguns desses animais decidem aparecer, como as cobras. Porque isso acontece e qual o melhor jeito de lidar com a situação?
Fabrícia - Os répteis em geral são animais de sangue frio e dependem do sol para se aquecer. Eles preferem os locais úmidos, escuros e quentes e por isso gostam de tomar sol em trilhas na mata. A mata tem trilhas quentes e também sombra das árvores, ao mesmo tempo, oferecem rotas de fuga e abrigo, caso algum animal de grande porte os ameace.
Encantes – No verão, muitas pessoas também fazem trilhas pela Mata Atlântica, quais cuidados devem ter para evitar ataques de animais selvagens.
Fabrícia - É sempre bom caminhar com roupas apropriadas, calça comprida bem confortável, camisetas, chapéus e de preferência botas (aquele coturnos semelhantes ao que os policiais usam) e caminhar com cautela sempre! Observando o lugar onde pisa, sempre em silêncio pra não assustar os animais e se avistar qualquer animal observe, desvie e não tente manipular.
Encantes - Quem for picado por uma cobra ou animal peçonhento como deve agir? No litoral, tem lugar especializado nesse tipo de tratamento?
Fabrícia - Antes vou dizer o que NÃO SE DEVE FAZER: Não fazer torniquete, não aplicar pó de café, querosene ou qualquer outro produto no local da picada, não fazer cortes no local da picada, tem venenos que causam hemorragia, e isso iria piorar o quadro clínico. Evite se movimentar e mantenha a calma, procure IMEDIATAMENTE o hospital mais próximo.
Encantes – Nesta época, também podem aparecer baleias e até pinguins, vindos de terras muito distantes. No caso dos pinguins, o que deve ser feito para mantê-lo vivos, pois moramos em um clima super quente, não adaptado a eles.
Fabrícia - Diferente do que as pessoas pensam não se deve colocar o pinguim no gelo e nem na geladeira, e sim colocar ele dentro de uma caixa de papelão, deixe-o descansar (ele está exausto devido à viagem) e mantenha-o aquecido, já que eles chegam com hipotermia (temperatura baixa, gelado). Coloca-lo no gelo pode levar a morte. Encaminhe-o imediatamente para a polícia ambiental que irá destinar ele para um centro de reabilitação.
Encantes – Existem animais nativos da nossa região com risco de extinção? Se isso ocorrer, qual impacto causará na cadeia alimentar? O que podemos fazer?
Fabrícia - Não podemos falar de extinção sem falar da Onça Pintada, sem dúvida daqui a poucos anos ela não existirá na mata atlântica, uma pena. O nosso maior felino brasileiro está sendo extinto por causa do DESMATAMENTO e por falta de conhecimento, por desejo de "sangue", as pessoas matam por gostar de caçar ou porque a onça atacou os animais de sua fazenda. Com a extinção da Onça Pintada irá ocorrer uma superpopulação de veados, antas, capivaras e porcos-do-mato. A maior parte desses animais é herbívora e, em grande quantidade, se tornariam prejudiciais a algumas plantas da floresta. O que temos que fazer é respeitar todo e qualquer tipo de vida, não caçar, não matar, não ter animais silvestres em casa e não desmatar a nossa mata, preservar o pouco que ainda existe. A educação ambiental é o mais importante.
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Fabrícia - É possível sim viver em harmonia com o nosso meio ambiente, só precisamos respeitar todos os tipos de vida, seja animal ou vegetal, a natureza é bela e precisamos dela para sobreviver. Ninguém é obrigado a amar os animais, mas todos devem respeitá-los, e entender que, além de nós, existem outras vidas que precisam desse ecossistema para sobreviver. Nenhum animal existe por acaso, todos tem um papel fundamental e o que precisamos é respeitar cada um deles e entender que nós estamos na casa deles e não eles na nossa casa.
A Fundação Animália, onde a Fabrícia trabalha, está passando por um grande problema financeiro, após o fim do convênio com a Petrobras. Se você quer saber mais sobre o assunto, clica neste Link:
FUNDAÇÃO ANIMÁLIA
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