Eu fui convidada pela professora Lidyane,
que ministra aulas no Colégio Mestre, de São Sebastião, para conversar com os
alunos do 7º, 8º e 9º anos sobre a minha profissão de jornalista.
Eu nunca tinha falado sobre esse assunto para uma turma tão
grande e estava com um frio na espinha. Eu fui a segunda pessoa a falar e
enquanto aguardava a minha vez fiquei olhando para os rostos daqueles jovens e pensando:
A experiência seja profissional ou amorosa é sempre única.
Sempre que a gente fala sobre si mesma cai no risco de parecer presunçosa, como
se quisesse dar sermão, pior, uma lição de moral, cruzes!
Naquele momento, eu podia até imaginar a mente deles bem
distante daquela sala, vagando em qualquer lugar entre o sinal da saída da
escola e o início do final de semana.
- Sexta- feira. Péssimo dia para um sermão, dizia pra mim mesma.
Para agravar a minha situação, eu não me sinto confortável
para falar sobre a profissão que eu escolhi e amo de paixão.
Há alguns anos, quiseram os nossos amados políticos que o
jornalismo passasse a deixar de ser reconhecida como uma profissão séria,
abolindo o diploma universitário como porta de entrada para o mercado de
trabalho.
Hoje qualquer um pode obter o MTB e se considerar jornalista, o que além de
desvalorizar os profissionais da área desmoraliza o nosso meio de trabalho,
cada vez mais repleto de farsantes e pessoas que se vendem a preço mínimo.
Mas, se eu não estava disposta a dar sermão, também não
tinha a intenção de desestimular os jovens que ainda sonham em se tornarem
jornalistas.
"Todo trabalho tem um tanto de inspiração e muito de transpiração". Essa frase veio na minha cabeça.
A inspiração, o movimento involuntário surge a partir das idéias
que ficam dentro de nós pedindo para sair, como um bando de
passarinhos assanhados presos na gaiola e pedindo para voar.
No caso, os passarinhos são as palavras que
eu liberto quando escrevo, mas cada um tem uma forma de expressar a sua inspiração
e libertar a alma.
A transpiração, o esforço contínuo e às vezes doloroso, as
noites acordadas pensando na melhor forma de construir uma frase e escolhendo a
palavra certa.
Os passarinhos ficam batendo asas e fazendo barulho na minha
cabeça, enquanto eu tento escolher qual deles está pronto para voar, qual é o
mais forte e o mais adequado. Qual eu solto e qual eu protejo para soltar em outro
momento. Isso pode durar horas ou dias.
Não à toa a palavra trabalho significa tortura. O termo vem
do latim tripalium, um instrumento romano de tortura.
Nesta sexta- feira, eu não quis torturá-los (espero que não
tenha feito isso!), mas tentar inspirá-los ao falar como me sinto quando estou escrevendo
as minhas crônicas, espero ter chegado lá.
Espero ter conseguido.
Como eu fiz na palestra, vou deixar aqui a frase do filme “A
Sociedade dos Poetas Mortos”, que um dia também me serviu de inspiração:
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