Uma noite
fria nos aguardava em Cracóvia, na Polônia. Antes de conhecer a cidade tudo o
que eu tinha ouvido falar sobre ela fazia referência aos judeus e aos horrores
vividos durante a 2ª Guerra Mundial. Mas, eu descobri uma cidade bonita, com um povo simpático e hospitaleiro. Muitos barzinhos e restaurantes, culinária saborosa. Além disso, tem lugares interessantes para conhecer como a Mina de Sal e a Fábrica de Oskar Schindler.
De todos os lugares que visitei nesta viagem foi o que mais me surpreendeu positivamente, talvez porque a expectativa fosse menor.
Cracóvia é bonita e preservada e a comida local é deliciosa. O preço também foi um atrativo porque nada é tão alto se comparado ao preço das outras cidades que visitamos.
Nós ficamos
bem no centro de Cracóvia, em um hotel familiar, com apenas 10 quartos, na Rua Grodzka21.
Nesta
noite, nós fomos jantar em um restaurante incrível e que por sorte ficava muito
próximo ao nosso hotel: Miod Molina,
onde provamos a cerveja Ksiazeçe
enquanto saboreamos uma deliciosa sopa dentro do pão e salada.
A moeda da
Polônia é chamada de Zlóty. No
centro, existem várias casas de câmbio. Hoje 1,00 zlóty equivale a 0,25 euros. No primeiro
dia na Cracóvia, nós fizemos um passeio de 3 horas de carro eletrônico para conhecer a cidade antiga, o Kazimierz (bairro
Judeu), o Gueto e a Fábrica de Schindler.
O passeio custou 65,00 zlóty/ pessoa (16,25 euros), com áudio em espanhol, e foi agendado pela recepcionista do hotel.
Durante o
passeio, além do áudio, o nosso guia também acrescentou algumas informações
interessantes e, sempre que pedíamos, parava o carro para tirarmos algumas fotos.
Nós passamos em frente ao barbacã, chamada Rondel, uma fortificação circular, com sete torres de observação, que foi fundada no final do século 15.
Seguimos em direção a Praça do Mercado, a maior praça medieval da Europa, com uma superfície de cerca de 40.000 metros quadrados, construída no século 13.
Nesta praça, fica a Igreja de Maria,
com arquitetura gótica, construída no século 14, sobre as fundações de uma
igreja do século 13. Devido à
sobreposição, o edifício não é paralelo a Praça, parece um pouco deslocada.
No meio da Praça do Mercado tem um edifício renascentista chamado de “Sala de Pano” ou Sukiennice, do século 16, projeto do arquiteto italiano Giovanni Padovano.
Outro
prédio que chama a atenção nesta praça é a Torre,
única parte do antigo prédio da Câmara Municipal que não destruída durante a
2ª Guerra Mundial. No passado, ela já foi usada como prisão.
Próxima da torre,
há uma escultura moderna, chamada "Bendato
de Eros", que foi doada à cidade pelo seu criador, Igor Mitoraj, uma
artista polonês que vive na Itália. O nosso guia explicou que a estátua simboliza o fim do comunismo.
Seguimos em direção à residência dos Bispos de Cracóvia, conhecido como Palácio do Bispo.
A Pauline - Igreja sobre a Rocha fica em um lugar lindo e tem uma história impressionante. Dizem que, em 1079 um bispo chamado Stanislas Szczepanow foi assassinado por um rei quando rezava uma missa nesta igreja, tendo o seu corpo cortado em pedaços.
O martírio desse bispo deu origem a um culto poderoso. Stanislas tornou-se não só o Santo Padroeiro de Cracóvia, mas de toda Polônia. O santo transformou-se no símbolo de um homem do povo que se rebelou contra a tirania do rei e sua mensagem continua a ecoar.
Na ala norte encontra-se um altar que marca o local onde o bispo foi morto. No lado de fora, tem uma fonte, onde conta a lenda teria caído um dos dedos do bispo, tornando a água milagrosamente curativa.
Durante a era comunista o Santo foi regularmente invocado pela Igreja, o momento mais memorável foi quando Papa João Paulo II rezou uma missa nesta igreja, junto às relíquias de St. St Stanislas, diante de uma multidão de 1 milhão de pessoas em Cracóvia, em junho de 1979.
Uma igreja que me impressionou muito pela riqueza de detalhes foi a de Corpus Christi, decorada em estilo barroco, construída no século 14. Ela está localizada no bairro dos judeus, chamado Kazimierz, e aparece na cena do filme “A Lista de Schindler”, como o lugar onde os judeus iam fazer negócios escondidos dos nazistas.
É impressionante o altar com a cruz de cristo em madeira e todo o espaço é muito antigo, uau!
É preciso explicar que o bairro judeu, Kazimierz, era uma vila suburbana fora de Cracóvia, quando a partir do século 14 começou a receber a
comunidade judaica, que foi transferida do centro histórico após um incêndio em
1495.
Antes da 2ª Guerra Mundial, em 1939, 60 mil judeus residiam em Cracóvia, a maioria neste bairro e representavam quase um quarto da população. Durante sua infância, Helena Rubinstein, que se tornou uma das mulheres mais ricas do mundo ao fabricar cosméticos, morou nesta casa verde (abaixo).
Neste bairro, existem hotéis e restaurantes que atendem os costumes judaicos. Nós chegamos a uma praça onde no passado tinham três sinagogas.
Uma delas é a Antiga Sinagoga, que foi completamente devastada e saqueada pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial. Hoje foi transformada em um museu, que conta a história e os costumes dos judeus em Cracóvia.
Ali também está a High Synagogue ou Remuh, foi construída em 1553 ao lado de um cemitério judeu (hoje conhecido como o antigo cemitério). Durante o Holocausto, a sinagoga foi ocupada pelos nazistas e serviu como um lugar para guardar os equipamentos de combate a incêndios, tendo sido roubados os objetos valiosos.
E a Sinagoga de Izaak, formalmente conhecida como a sinagoga de Isaak Jakubowicz. O fundador da sinagoga é o herói de uma conhecida lenda derivada dos contos das 1001 noites.
Conta à lenda que Ayzik Jakubowicz, um judeu piedoso, mas pobre, após um sonho, encontra um tesouro escondido em sua casa. Nosso guia contou que, após tornar-se um homem rico, a pedido da sua esposa ele construiu uma sinagoga.
...mas, que
não teria ficado feliz em ter que gastar o dinheiro, por isso, a carinha triste
na parte alta do prédio.
Os nazistas destruíram o interior e mobiliário da sinagoga e, após a guerra, o edifício foi usado por um atelier de escultura, depois por uma companhia de teatro. Com a queda do comunismo na Polônia, o prédio foi devolvido à comunidade judaica. Agora é uma Sinagoga Ortodoxa.
Do bairro judeu, nós atravessamos a ponte em direção à Fábrica de Oskar Schindler, que fica próxima ao gueto, a parte da cidade para onde foram levados os judeus de Cracóvia, durante a 2ª Guerra Mundial. Eles deixaram suas casas para trás e atravessaram essa ponte com os seus pertences.
A Fábrica
de Schindler foi transformada em um museu, que mostra como viviam os judeus entre
os anos de 1939 a 1945, durante o tempo em que foram perseguidos pelos nazistas.
O passeio é imperdível e o valor do passeio é 19,00 zlóty.
A fachada
da fábrica está igual ao filme A Lista Schindler. Clique aqui para
ler um post especial sobre a fábrica.
Ao sair da
fábrica, passamos em frente ao que restou do Muro, que separava os judeus que estavam presos no gueto do restante
dos moradores da cidade, estabelecido em 03 de março de 1941, no distrito de
Podgórze, ao invés do distrito judaico de Kazimierz.
Enquanto isso, 15 mil judeus foram comprimidos em uma área que abrigava anteriormente 3 mil pessoas em um distrito que consistia de 30 ruas, 320 construções residenciais e 3.167 cômodos. Como resultado, cada apartamento passou a abrigar quatro famílias, enquanto os menos afortunados passaram a viver nas ruas.
Uma das construções mais importantes do gueto e que ainda está lá é a Apteka Pod Orlem (Farmácia do Águila), que pertencia a Tadeusz Pankiewicz, um não-judeu autorizado a manter sua farmácia aberta dentro do gueto devido ao temor dos nazistas de que se propagasse em seu interior uma epidemia de tifo.
Nesta
farmácia, ele ajudou a proteger os judeus do gueto e ocultava em seu
estabelecimento atividades clandestinas de resistência. Quem se interessar pela
história, leia o livro dele “A Farmácia do Gueto de Cracóvia”.
A partir de 30 de maio de 1942, os nazistas iniciaram as deportações sistemáticas do gueto para campos de concentração da região.
Os judeus
eram primeiramente reunidos na Praça
Zgody, onde deveriam deixar todos os seus pertences e então eram escoltados
para a estação de trem em Prokocim.
Essa praça
que foi cenário de muitas execuções, desde 2005, foi transformada em um
memorial às vítimas do holocausto. A memória dos ausentes se manifesta através de objetos de uso corrente, como as cadeiras vazias, que adquirem um caráter simbólico.
Uma coisa é
saber o que aconteceu através de livros e documentários e outra bem diferente é
estar no lugar de tanto sofrimento. Não foi um dia fácil para mim, não mesmo.
Neste mesmo
dia, no período da tarde, nós fomos conhecer a Mina de Sal, chamada Wieliczka.
Ela é imensa, com vários degraus, ufa! Fizemos o tour com uma guia e foi
divertido.
Se você
quiser saber mais sobre a Mina de Sal, Clique Aqui.
Nós fizemos muita coisa em um único dia em Cracóvia, não é? Nessa correria, ainda deu tempo de experimentar os chocolates da doceria Karmello, que o nosso guia disse ser o melhor da Cracóvia. Realmente era muito gostoso.
Nós encerramos a noite em um restaurante chamado Wesele, no coração da Praça do Mercado.
Eu aproveitei para provar um prato típico de Cracóvia, chamado Pierogi, macinha recheada com carne de porco, acompanhada da cerveja Tyskie.
A cidade de Cracóvia vale a sua visita, se eu soubesse o quanto seria interessante eu teria me programado para ficar por mais tempo. Voltei daqui com a mente mais aberta. Vamos em frente porque a viagem não acabou.
Vamos seguir o caminho feito pelos judeus de Cracóvia: Campo de Concentração: Auschwitz- Birkenau.
Vamos seguir o caminho feito pelos judeus de Cracóvia: Campo de Concentração: Auschwitz- Birkenau.
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