Só por hoje a para sempre, de Renato Russo, é um diário onde o artista escreve todo o seu processo de autoconhecimento, reflexão e busca pela vida ao mesmo tempo em que está internado na Clínica Vila Serena, no Rio de Janeiro, para tratamento dos vícios de drogas e álcool.
Para
proteger a intimidade das pessoas queridas pelo autor, os nomes no diário foram
substituídos por iniciais, mas todo o resto foi mantido na íntegra. Inclusive,
algumas páginas apresentam até as correções no texto e os desenhos feitos pelo cantor, o que
torna o material mais precioso.
Os textos
reunidos no livro revelam um momento de recolhimento, o cantor estava "no fundo do poço", como ele dizia, devido à uma história afetiva saturada de relacionamentos
autodestrutivos e a dependência química.
“Hoje não
dá/ Vou consertar a minha asa quebrada/E descansar”, o trecho de sua música “Os
Anjos”, representa bem esse momento da vida de Renato e está no álbum O descobrimento do Brasil, lançado meses
depois dele ter deixado a clínica.
Assim como
eu, acredito que todos que os jovens da década de 90, curtiram o som do Legião
Urbana e um dia já dançaram loucamente a ritmo das suas músicas, mas poucas pessoas
conheceram a intimidade do vocalista da banda, Renato Russo.
As músicas
eram como bombas revolucionárias, que explodiam em palavras que se não podiam
ser racionalizadas, faziam todo o sentido para quem estava no auge da rebeldia
e disposto a quebrar tabus e mudar antigos conceitos.
Apesar de
toda rebeldia, o visual do Renato Russo, de óculos e sempre muito reservado, impunha
uma barreira e evitava muita aproximação.
Só depois de
ler o livro, eu entendi que a cara amarrada do cantor servia como um escudo para protegê-lo do mundo
exterior, pois era um cara extremamente sensível e cheio de complexos com a sua
aparência, além de ser muito inseguro e carente.
Inclusive,
o livro começa com uma carta escrita por Renato Russo para ele mesmo, onde no
final assina: Seu Medo.
O livro
permite que os leitores se aproximem da intimidade do Renato Russo, que poucos
tiveram a oportunidade de conhecer.
Eu não sei exatamente
quando parei de acompanhar a banda, mas a verdade é que eu já não era uma
grande fã quando o Renato Russo faleceu.
Para ser
sincera, eu nunca tentei descobrir a causa da morte dele e só muito tempo
depois fiquei sabendo que tinha sido mais uma vítima da aids, assim como Cazuza
e tantos outros.
O tempo
passou e, aos 40 anos, eu vejo os meus filhos cantado as músicas do Legião
Urbana. Prova de que música de qualidade é atemporal.
As
mensagens parecem ter sido escritas por alguém que está vivendo os conflitos atuais,
corrupção na política, desentendimento de pais e filhos, entre outros temas que
nas letras dele viraram poesia.
No prefácio
do livro, o filho do cantor, Giuliano Manfredini, afirma que guarda uma imagem forte
do pai sempre sentado à mesa, no sofá ou numa poltrona preenchendo cadernos e
cadernos com sua letra miúda e metódica.
Um dia,
intrigado, ele conta que decidiu perguntar:
- Pai, por
que você escreve tanto?
- Porque
nos próximos 50 anos, Giuliano, as pessoas poderão saber o que eu sinto e penso
hoje”, respondeu ele.
Renato estava
certo.
Giuliano
também afirma estar convicto de que o livro servirá de inspiração para quem
busca forças para vencer crises pessoais das mais diversas origens e que, por
isso, esses escritos inéditos não poderiam permanecer guardados com ele.
Só temos a
agradecer por nos presentear com essa obra e esperar que, depois desse
livro, venham muitos outros. Renato Russo nunca é demais.
Para
encerrar deixo uma mensagem que o cantor escreve no livro:
“Só por hoje e para sempre! Vamos ser felizes
de novo!”.
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