Ela ficou
ali, parada por alguns segundos que pareceram horas, ouvindo a torneira da
cozinha pingar. Um pingo atrás do outro... e, muitos outros depois, decidiu que
era hora de fazer alguma coisa antes de enlouquecer.
Pensou em
mudar de lugar e ir sentar-se bem longe dali, onde o barulho do pingo d’água
não pudesse atormentá-la.
E, assim,
começou a pensar nos cômodos da casa como esconderijos, analisando um a um, com
tal cuidado, que daria inveja ao mais imaginativo dos espiões.
Friamente descartou
todos os cômodos próximos da cozinha, sala, escritório, lavabo e até a varanda.
Olhou para
a escada e percebeu que lá em cima estaria mais segura.
Assim, ela
chegou ao seu quarto, deitou-se na cama, encolheu- se o mais que pode e
escondeu a cabeça embaixo do cobertor.
Para o seu
desespero, o som da gota d’água parecia ter subido a escada junto com ela e,
pior, agora parecia estar dentro dela.
A inocente gota
d’água tomou conta do seu coração. O seu coração não batia, ele se afogava.
De gota em
gota, surgiu um rio com fortes correntezas e os seus sentimentos mais profundos
começaram a vir à superfície, abrindo antigas feridas.
A água
continuou a percorrer o seu corpo até os seus olhos, ela não conseguia parar de
chorar. Era um choro interminável.
Com a visão
encharcada, ela tentou se levantar e depois de muito esforço, que durou dias ou
meses, decidiu subir ao telhado da sua casa.
Era um
lugar tão perigoso para alguém que se afogava em um rio formado por milhares de
gotas d’água...
Mas, foi ali,
quando sentiu finalmente o perigo, que ela percebeu o que deveria fazer para esvaziar
o seu coração, enxugar os seus olhos e parar de dar atenção apenas ao som que
estava atormentando-a.
Sim, ela
precisava de ar. Precisava desesperadamente de ar.
Respirou
fundo. Rezou para o vento, pediu que viesse de mansinho, que fizesse o rio de
gotas d’água evaporar e que tudo voltasse ao normal.
O vento
veio, fez o seu papel e na despedida deixou um bilhete:
“NÃO FUJA.
CONSERTE A TORNEIRA”. E foi isso o que
ela fez.
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