Contam os
livros que, a bordo da embarcação "Itaparica", o revolucionário
Giuseppe Garibaldi observava com uma luneta as casas da barra de Laguna, em
Santa Catarina, quando avistou uma jovem cujo rosto conquistou sua imaginação e
seu coração.
Providenciou
um barco para ir até o local onde a tinha visto, porém não a encontrou e já tinha
perdido a esperança quando um habitante local o convidou a ir a sua casa para
um café. Garibaldi aceitou e na casa encontrou a jovem que procurava. Assim
Garibaldi relata em suas memórias o seu primeiro encontro com Anita:
"Entramos, e a primeira pessoa que se
aproximou era aquela cujo aspecto me tinha feito desembarcar. Era Anita! A mãe
de meus filhos! A companhia de minha vida, na boa e na má fortuna. A mulher
cuja coragem desejei tantas vezes. Ficamos ambos estáticos e silenciosos,
olhando-se reciprocamente, como duas pessoas que não se vissem pela primeira
vez e que buscam na aproximação alguma coisa como uma reminiscência. A saudei
finalmente e lhe disse: 'Tu deves ser minha!'. Eu falava pouco o português, e
articulei as provocantes palavras em italiano. Contudo fui magnético na minha
insolência. Havia atado um nó, decretado uma sentença que somente a morte
poderia desfazer. Eu tinha encontrado um tesouro proibido, mas um tesouro de
grande valor”.
É para a
cidade de Laguna, onde começou o romance entre Anita e Garibaldi, que eu convido você
a viajar comigo.
Ana Maria
de Jesus Ribeiro, mais conhecida por Anita, tinha 18 anos quando se encontrou
com Giuseppe Garibaldi. Ele tinha 32 anos. Garibaldi tomava parte das tropas
farroupilhas de Davi Canabarro, em julho de 1839, que chegaram para tomar
Laguna, uma cidade praiana, em São Catarina, no sul no Brasil, com o objetivo
de formar a República Juliana.
Nossa
primeira parada na cidade foi na casa amarela com janelas azuis, ao lado da
Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna, onde ocorreu o primeiro encontro
entre Anita e Giuseppe.
Esta casa,
disseram os guias, pertenceu aos padrinhos de Anita e foi aqui que ela se
vestiu para o seu primeiro casamento, aos 14 anos, com Manuel Duarte de Aguiar.
Mas, vamos voltar casa de chão de tábua e parede caiada, onde estão guardados alguns objetos da época e os quadros com fotos da família.
Ao entrar
na casa, o primeiro cômodo que observamos é a sala, onde tem uma mesa, quatro
cadeiras e uma máquina de costura.
Também tem
um móvel onde está exposta a certidão de nascimento de Anita, confirmando que
ela nasceu em Laguna.
Ali também fica
exposta a certidão de casamento dela com Giuseppe, no Uruguai, em 1842. Dois
anos e meio após encontro, o casal legalizou a união, na igreja de São
Francisco de Assis, em Montevidéu. Neste
móvel, também está uma tesouro que teria pertencido a Anita e foi deixada para
uma amiga.
Ao lado da
sala está um quarto, com uma cama antiga, criado mudo e um retrato de Anita,
Garibaldi e os três filhos: Menotti Garibaldi (1840), Teresita (1845) e
Ricciotti Garibaldi (1847).
Eles tiveram outra filha, Rosa (1843), que faleceu
aos dois anos de idade por asfixia, por causa de uma infecção na garganta. No quarto,
também tem desenhos que mostram como foi o encontro do casal e também como teria
sido o dia da morte de Anita. Para desespero de Garibaldi, ela faleceu com
apenas 27 anos e grávida do 5º filho.
A casa ainda tem uma sala de jantar, com objetos da época.
Anita é
conhecida atualmente como a "Heroína dos Dois Mundos" e existem
vários monumentos e ruas em sua homenagem.
Estar em
Laguna é como reviver esse passado. Por isso, depois que saí da Casa de Anita
fui conhecer a Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos da Laguna, disseram que
ela está bem diferente, mas um recado avisa que parte do prédio tem mais de 300
anos.
Durante a
visita ainda conheci a Casa de Pinto D’Ulysséa, construída em 1866, inspirada
em uma Quinta Portuguesa, com a fachada revestida de azulejos. No passado, foi
uma importante chácara.
Ao lado
desta casa, fica a Fonte da Carioca, construída em 1866, onde as pessoas da
cidade ainda hoje vão buscar água. Ela foi ampliada em 1906 e restaurada em
1990.
Diz o ditado popular que "Quem bebe desta água sempre retorna a
Laguna e seus amores". É claro que eu bebi desta água!
Nossa
última parada na cidade foi para conhecer o monumento erguido para lembrar a
assinatura do Tratado de Tordesilhas, em 1494, que estabelecia uma linha
imaginária 370 léguas a oeste do Arquipélago de Cabo Verde, sendo que as terras
a leste desse meridiano pertenceriam a Portugal. O trecho de terra limitado
pelo tratado se estendia de Belém do Pará, ao norte, até Laguna, ao sul.
O monumento
fica em um lugar meio estranho, mas não custa nada ir conhecer, certo?
Ao viajar pelo
sul do Brasil fica evidente que a Revolução Farroupilha ainda é lembrada pelos
gaúchos com orgulho e por alguns com certo saudosismo. É o caso do dono de um
hotel na pequena Cristal, localizada no Rio Grande do Sul, cidade que abriga o
Parque Histórico Bento Gonçalves.
Ao conversar
com ele, nós ficamos sabendo que era a favor da separação do Sul do restante do
país por não se conformar que uma região tão rica possa estar enfrentando
tantas dificuldades.
Pensei: O
tempo passa, mas algumas coisas não mudam. Infelizmente!
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