Por Sonia Lopes
Dia 34 - Santibáñez
de Valdeiglesias - Astorga - 16km
Que dia mais lindo... céu azul forte que faz o contraste do
verde e das flores explodirem nos olhos. De volta aos caminhos mais distantes
do asfalto, o cheiro de mato e canto de passarinho me lembram do que realmente
eu gosto. Claro que curto castelo, catedral e bares nas plazas. Mas não me
iludo. É nas trilhas que me acho.
O caminho já me pôs à prova em inúmeras situações. Testei
meus limites de força muscular, resistência, fôlego, medo, frio, calor, dor por
causa de bolhas e outras cositas más.
Agora, por incrível que pareça, o Caminho me põe a andar
mais lentamente, como no início do caminho francês ano passado. Pensam que é
fácil? ? É nada!!! O exercício de caminhar de 25, 30, 35 km por dia vicia!! E o
corpo grita por mais. É como se eu precisasse chegar exausta e para morrer nos
albergues. Jamais pensei que fosse possível sentir isso.
A minha sorte é que a
Cláudia e a Anna Maria são divertidas, tenho total liberdade e falamos a mesma
língua.
Chegamos cedo em Astorga. A cidade é pequena e já posso ser
guia turístico aqui. Das outras vezes fiquei em um albergue particular. Hoje
ficamos no Albergue municipal que para minha surpresa é um encanto! Ah! Como
tinha tempo de sobra conheci o interior do Palácio de Galdi. Tudo ótimo! Estou me tornando uma pessoa melhor.
Dia 35 - Astorga -
Rabanal del Camiño - 20km
Ô calorão danado! Mesmo tendo saído as 6h30 de Astorga,
chegamos quase cozidas as 14h30 em Rabanal.
Bacana por causa das paradas para café almoço e cerveja em Murias de
Rechivaldo, Santa Catalina de Somoza e El Ganso respectivamente.
Percurso duro. O terreno difícil e com algumas subidinhas
pode ter causado algumas bolhas nas novas peregrinas (que estavam na hora de
aparecerem mesmo). Mas que trecho lindo! As três ficaram satisfeitas.
Teve ermita e igreja
para a Cláudia, restaurante para a Anna, trilhas verdes cheias de flores e
cerveja com limão para mim!
Pense num dia feliz!
Pronto!
Já nos instalamos, lavamos roupas e mais tarde vamos a uma
missa super especial.
E fizemos uma comidinha leve aqui no albergue mesmo.
Dia 36 - Rabanal del
Camiño - Acebo - 16km
Hoje a jurupoca piou. Alto.
As peregrinas saíram todas se achando rumo a um dos trechos mais duros
do caminho. E também um dos mais lindos e emblemáticos. Cruz de Ferro e
Manjarín pela frente.
Uma subida de 7 km e
depois a descida tenebrosa por caminhos de pedras soltas.
As caras estavam de dar medo no final. É verdade! Anna Maria
sentiu a virilha e teve que tomar remédio ainda no caminho. A Cláudia apitou
depois que entramos em Acebo. Larguei as duas no primeiro boteco e fui a busca
do Albergue.
Lá Casa del Peregrino. Atravessei Acebo e encontrei o tal já
na saída! Longe demais e ainda descendo
ladeira! Não tive dúvidas. Pedi ajuda na recepção e me levaram até elas em uma
Hilux preta reluzente.
O albergue é um arraso. (10€) Tem até piscina! E todos são
extremamente gentis. Depois de todo esse tratamento e um menu de peregrino 5
estrelas, a animação e o bom humor voltaram a reinar. Vamos em frente!
Amanhã Molinaseca. Mais uma descida vertiginosa que
completará o barranco de 1.504 m a 590m.
Isso é que é uma ladeira!
Fiquei sabendo agora pouco da tragédia que aconteceu na
minha cidade, São Sebastião. Rezo na
Cruz de Ferro por um pouco de consolo às famílias dos estudantes mortos no
acidente. Doeu.
Dia 37 - Acebo -
Ponferrada - 17km
Ai Jesus... Mais um descidão de 8km e lá estava Molinaseca.
A trilha neste trecho é ainda mais exuberante pela proximidade dos precipícios
e beleza da vegetação.
Sem falar no pueblo
de Riego de Ambros super charmoso, com suas flores e casas de pedra. A
dificuldade do terreno de pedras foi até o final.
Passado o susto com a virilha da Anna, decidimos seguir até
Ponferrada ver isso de perto. Tudo bem! Anna Maria pronta para prosseguir.
Estamos no Refúgio de Peregrinos San Nicolas de Flüe que é imenso e muito
legal. Tem uma fontesinha para peregrino relaxar os pés.
Gelada mas ajuda.
Fomos visitar o interior do Castelo Templário (fantástico) a
Basílica Nossa Senhora Encina e agora estou digitando este resumo enquanto o
Menu do peregrino não é servido. Opa! Chegou!
Dia 38 - Ponferrada -
Cacabelos - 16km
Dia de caminhar tranquilamente por vinhedos, atravessando 3
pueblos: Columbrianos, Fuentes Nuevas e
Camponaraya. Um mais lindo que o outro!
Nunca vou me acostumar com o tamanho e as cores das roseiras
da Espanha. Os jardins explodem em rosas nesta época do ano. Anna quer fotos
das rosas, Cláudia das hermitas e igrejas e eu quero andar. Mas, nos entendemos
e prosseguimos.
Hoje colhi morangos silvestres! Como são diferentes! Cor e
sabor intensos.
Uma subidinhas suave aqui....outra ali e chegamos no início
da tarde em Cacabelos. Outra graça de
lugar.
Dia 39- Cacabelos -
Trabadelo - 17km
Que noite bem dormida! E que dia bacana para caminhar! Mesmo com a chuvinha na chegada de Trabadelo, não há do que reclamar.
Pueblos lindinhos pelo caminho e a maravilhosa Villafranca
del Bierzo no meio do percurso de hoje.
Vinhedos famosos e perfumados. Cerejeiras, amoreiras, e
outras frutinhas vermelhas que não lembro o nome. As flores penduradas nas
varandas, parques e jardins continuam dando show.
Na metade do final, o caminho teve o auxílio luxuoso do Rio
Valcarce limpo, gelado e ruidoso com suas corredeiras. Coisa linda!
Um café aqui, um curativo no pé da amiga ali, uma musiquinha
acolá e chegamos tranquilamente na parada de hoje. Bacana! Amanhã segue o
baile!
Dia 40 - Trabadelo -
La Faba - 15 km
Já viram um trio brilhando? Eu vi hoje!
Saímos perto de 8h00 de Trabadelo sabendo que os 12
primeiros kilômetros seriam café com leite, mamão com açúcar, moleza como tirar
pirulito de criança. Se bem que ultimamente a criançada não tá mais ligada em
pirulito e sim em celulares e tablets. É
mais um trocadilho que se perde.
Mas, voltando ao caminho... a coisa começaria fácil. Em
compensação os 3 últimos km seriam o início da temida subida ao Cebreiro. O
primeiro terço mais difícil. O bicho papão. O coisa ruim das ladeiras acima.
Cada uma no seu ritmo sem perder as outras de vista. E
fazendo quantas paradas fossem necessárias. Sussa!
Vou falar por mim. Parecia outra trilha e não a que fiz ano
passado. Subir esta montanha em 2 partes me permitiu saborear toda beleza desta trilha que é uma das mais exuberantes
que já fiz.
Seja pelas altas encostas ou pelas cores, pelo rio, aromas,
canto dos pássaros, chão de pedras, raios de sol que penetram na copa das
árvores em vários trechos ou pelos peregrinos com os rostos suados e
sorridentes arfando e querendo ser cúmplices daquele momento especial. Algo
como uma enorme equipe chegando em primeiro lugar e recebendo medalhas. Difícil
explicar. Mas não parecia o trecho que eu fiz no ano passado.
Ano passado subi de um tiro só e não absorvi nada disso. E
hoje, de bônus, ainda tem o autêntico e bem cuidado albergue de La Faba que é
dirigido por alemães. E La Faba é
acolhedora. E tem restaurante com preço justo e comida deliciosa.
A palavra para hoje é encantamento. Que maravilha poder subir o Cebreiro desta
forma.
Alguém me perguntou a idade do trio. Eu tenho cinquenta e
pouco. A Cláudia uns poucos a menos e a Anna uns poucos a mais. Somando tudo e
dividindo por três dobra nada que se aproveite! Rsrsrsrs
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