O documentário “O Bom Filho”, que está sendo transmitido pelo Canal de TV Aberta GNT, é uma boa oportunidade para discutir em família sobre as questões de gênero sexual, preconceitos e estereótipos.
Apesar dos três morarem em uma casa pequena, o rapaz consegue esconder na parede do seu quarto, um grande segredo: um calendário onde está marcada a data da sua cirurgia de mudança de sexo.
No documentário, Or conta que sempre se sentiu deslocado na escola e na família e não entendia o motivo, até o dia que se olhou no espelho e teve a resposta: Ele era uma Mulher.
Desde que decidiu fazer a cirurgia, o rapaz começou a gravar vídeos, que fazem parte do documentário, onde revela o medo de não ser aceito pela família e a ansiedade com a proximidade da data.
A ansiedade dele tem uma causa menos nobre. Or precisa desesperadamente de dinheiro para fazer a cirurgia na Tailândia, que custará 19 mil dólares.
Ele conta que já conseguiu uma parte do dinheiro, mas ainda faltam 12,5 mil dólares. O único jeito de obter esse dinheiro é pedindo para o seu pai.
O documentário mostra a cena em que Or pede o dinheiro emprestado para o pai alegando que deseja fazer uma viagem para conhecer o mundo e recebe uma bronca daquelas.
O pai fica indignado com a atitude do filho de querer gastar o dinheiro da sua aposentadoria em uma viagem.
Or não desiste de obter esse dinheiro e inventa uma grande mentira. Ele falsifica um documento da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e informa os pais que tinha sido aprovado em um curso.
Com essa mentira, ele consegue o que deseja. Os pais ficam orgulhosos com o desempenho do filho e emprestam o dinheiro.
Nessa hora, o rapaz percebe que foi longe demais com a mentira, mas não volta atrás.
Neste momento do documentário, eu só conseguia pensar que Or tinha roubado o dinheiro da aposentadoria do pai e ainda por cima iria mata-lo do coração ao aparecer novamente como mulher.
- Já pensou: o seu filho sai de casa para ir à universidade e volta outra pessoa?
O documentário mostra o dia da partida de Or. A mãe chora enquanto arruma a mala de viagem do rapaz, dizendo o tempo todo o quanto o ama.
Mas, apesar das declarações da mãe, o filho não tem coragem de contar a verdade.
- Será que ele não poderia ter sido sincero pelo menos com a mãe? Isso era o que eu me perguntava.
Mas, enfim, ele parte para a Tailândia, deixando os pais em Israel sem terem nenhuma ideia da grande mudança que vai acontecer na vida dele.
Na Tailândia, Or passa pela cirurgia de mudança de sexo. Além disso, coloca implantes no seio, muda os formatos do nariz e do queixo para ficar com aparência de mulher.
Nessa hora, quando ele aparece todo machucado, se recuperando da cirurgia, eu pude finalmente me solidarizar com Or.
Eu percebi o quanto devia ter sido difícil tomar a decisão de mudar de sexo, uma cirurgia extremamente delicada, tanto do ponto de vista físico quanto psicológico, sem que pudesse falar sobre isso com a família.
O meu pensamento sobre ele começou a mudar. De um filho ladrão passei a vê-lo como um filho muito solitário.
Eu comecei a me preocupar com ele. O que aconteceria depois da cirurgia? Ele seguiria em frente ou voltaria à sua antiga vida?
Eu não sei o que eu faria se estivesse na pele dele. Mas, me identifiquei com o medo do Or. Qual é o filho que não sente medo de decepcionar os pais?
Com todas as evidências de que seria rejeitado, Or retorna para Israel e procura a sua família.
Em uma cena emocionante, no primeiro encontro deles depois que retorno da Tailândia, o pai diz ao filho:
- Você não pode voltar a ser como antes?
- Mas, eu sou assim. Eu sempre fui assim.
Claro que à volta de Or para casa abre algumas feridas na família, mas com amor cada uma delas vai sendo tratada com o tempo.
O documentário mostra no final que Or voltou a estudar e concluiu a Faculdade de Química, arrumou dois empregos e devolveu o dinheiro que roubou dos pais.
Além de contribuir para o debate sobre gêneros, o documentário também nos lembra de confiar mais no poder do amor da família.
Depois de se aceitar e se perdoar, o próximo passo é dar oportunidade para que os nossos familiares (e quando digo familiares quero dizer às pessoas que escolhemos para ser a nossa família e não apenas os parentes de sangue) possam fazer o mesmo.
Eu comecei a me perguntar se os meus filhos seriam capazes de esconder algo tão importante para eles com medo de me decepcionar?
Nós geralmente mentimos para as pessoas que amamos com medo de perdê-las ou decepcioná-las e acabamos fazendo as duas coisas porque a mentira não dura para sempre.
Por isso, é sempre bom lembrar as pessoas que são importantes para nós que o amor não é perfeito. Como diz o ditado que eu li: O amor perfeito decidiu ser flor.
O amor é bondoso, confiável, tolerante e sabe perdoar.
O documentário “O Bom Filho” conta uma história forte e bastante complexa, onde os sentimentos de indignação e compaixão ora se esbarram e ora se afastam até que se transformarem em amor.
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