quinta-feira, 2 de junho de 2016

Te pego na rede!




Por muito tempo, eu resisti a comprar um celular de última geração por achar que não teria domínio sobre o aparelho. Eu estava certa.
A situação chegou ao ponto de não conseguir dormir por causa do barulho do aviso de e-mails e mensagens. Era só ouvir o barulho para despertar do sono ou sair correndo do banho.
Pelo menos, esse problema eu resolvi. Mas, existem algumas situações muito mais complicadas de resolver depois que o celular passou a ser visto como um item de necessidade básica.
Ou você acha que o celular é apenas um telefone que as pessoas usam para falar umas com as outras?


Se você ainda está nessa... desculpe aí... mas você está ultrapassada. Aposto que o seu celular ainda não é um Iphone 6 plus, kkkk
Brincadeiras à parte, mas o fato é que o celular há muito tempo deixou de ser apenas um telefone.
Aliás, o que menos as pessoas fazem hoje é falar no celular, isso é quase pré-histórico.
Se algum dia você receber uma ligação de alguém, sinta-se como se estivesse recebendo um buquê de flores. Sinta-se realmente especial. Uma ligação, que emoção!
Depois das redes sociais, o máximo que as pessoas fazem  é falar com o próprio celular, ou seja, gravam mensagem de voz.
O celular é mais simpático do que você, sabe por quê? Ele não responde e quem não responde, consente.
Mas, isso não é o fim (espero que não), apenas o começo de uma nova era mais silenciosa, o que não significa que os conflitos são menores.
As pessoas continuam brigando do mesmo jeito. Só que ao invés de falar com a boca, falam com os dedos das mãos. TOC, TOC, TOC coitadas das teclas do celular, como elas apanham!
Hoje as pessoas usam o celular para suprir suas necessidades básicas, como eu já disse. Depois do celular, eu posso apostar que a venda de calmantes diminuiu na mesma proporção que aumentou a venda de antidepressivos.
Se a pessoa está aborrecida por aguardar em uma fila interminável ou teve um dia de poucas novidades, através do celular ela se conecta a rede social e rapidamente é abduzida para outro mundo: a rede.
Na rede, ela se acalma porque esquece o problema, onde estava e o que fazia antes já não tem importância. Tem gente que esquece até mesmo quem é.

Você percebeu que tem muita gente que parece incorporar uma personalidade diferente quando está na rede social?

Ah! Eu já tive boas surpresas com isso. Em alguns casos cheguei a pensar que se tratava de caso de bipolaridade, mas não... é apenas um caso de abdução.
Acredite quando eu digo que a rede é capaz de tudo sei do que estou falando.
Além de modificar comportamentos, abduzir pessoas e transformar personalidades, também é capaz de interferir nos relacionamentos.
Uma vez, eu confesso que cheguei a ligar 10 vezes seguidas para o meu marido. Não, eu não sou louca ou não achava que eu era até escrever isso e me dar conta de que posso ser muito louca, ai meu Deusssss... estou assustada comigo!
Bem, já que contei vamos lá... Na terceira vez, eu já sabia que ele não atenderia as próximas sete ligações. Mas, o sentido já não era falar com ele, mas fazê-lo ficar preocupado com tantos telefonemas e, com medo, da minha raiva.
Revoltada, continuei discando... discando... discando. Cada vez, que a ligação caia na caixa postal eu me sentia mais sozinha:

- E se eu estivesse morrendo? Pensava. Pensamento bobo, eu sei. Como ele poderia salvar a minha vida apenas atendendo ao telefone?

Nesse ponto, muita gente apela para os antidepressivos, eu segurei a onda, mas foi quase... brincadeirinha, kkkkk.
Mas, os sentimentos são estranhos. A carência, então, é estranhíssima.
Se a pessoa que você ama atende o celular e sai de perto para falar com privacidade, o que você faz?
Antes do celular, era difícil ter privacidade para falar ao telefone. Quase sempre o aparelho ficava na sala ou no quarto.

- Desliga isso ai, queremos assistir a novela!
- Aproveita e diz para ele que você tem pai e mãe. Quem já não ouviu isso!

Éramos obrigados a conviver com as interferências indiscretas. O jeito era cochichar ou falar em códigos.

- Sabe aquele chocolate (Sabe aquele menino)? Então, ele me deu uma dor de barriga daquelas (Ele me deu o fora).

Isso é passado. A tecnologia resolveu esse e outros dilemas. Mas, em compensação criou novos dilemas, que ainda estão longe de resolvidos.

Afinal, a privacidade é importante? Você é capaz de respeitar a privacidade da pessoa que você ama, até que ponto?


Em apenas seis meses, eu ouvi três histórias diferentes de casais que brigaram por causa dos seus comportamentos na rede social. Um deles acabou se separando e os outros dois ainda estão tentando lidar com a situação.
Você terminaria o seu relacionamento se descobrisse que está sendo traindo na rede social?
Hoje o mundo virtual e o mundo real estão muito próximos e fica difícil às vezes identificar o que é realidade daquilo que é só uma fantasia.

Na rede podemos ser quem quisermos e até nós mesmos. Mas, somos reais ou criamos personagens?

Estamos vivendo um tempo muito estranho e, após pensar sobre isso, eu acho que só existe um jeito de sair dessa enrascada e proteger os nossos relacionamentos dessa rede de intrigas, que confunde realidade e fantasia: voltar a conversarmos como antigamente.
Precisamos reaprender a dialogar um com o outro: com os olhos, a boca e o coração. Do jeito que sempre fizemos antes do celular e das redes sociais.
Não vou ficar surpresa se daqui a algum tempo surgir um aplicativo de celular que ensine as pessoas a conversarem da forma tradicional. Você duvida? Enquanto uns complicam, outros ganham dinheiro.
Isso seria o mesmo de nos chamar de idiotas, criar um aplicativo para nos ensinar a fazer algo que já sabemos faz tempo, mas se já existe um para nos lembrar de beber água, pense:
Será que estamos sendo idiotas?



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