Por Valéria Souza Ramos
Meu marido sempre teve muito interesse por ecologia e
tecnologia e encontrou algo que satisfazia seu desejo de estar ativo e
preservar a natureza. Em uma exposição na Alemanha descobriu o Velomobiel, uma
bicicleta bem diferente, com três rodas e uma cabine, que permite pedalar sem
se molhar na chuva e nos dias branquinhos de neve do inverno. Meu marido
resolveu comprar o tal Velomobiel para ir trabalhar. Ele o equipou com
acessórios técnicos como GPS, luzes, buzina... Ficou parecendo um carro, mas
com funcionamento mecânico, dependendo só das nossas pernas para ganhar vida.
Este foi mais um dos brinquedinhos do Joris. Também começamos a fazer viagens
de bicicleta. Fomos da Bélgica a Holanda, França e quase chegamos a Espanha.
Fizemos um trecho grande do caminho de Santiago de Compostela. Foram 800 km de
puro prazer junto à natureza e passando por cidadezinhas sossegadas. Uma das
viagens mais bonitas da nossa vida.
Como estes percursos dependem de tempo, ficamos limitados
aos dias de férias. Deixamos em nossos planos para terminar o caminho quando
tivermos um longo período livre e com as condições físicas que exigem a viagem.
Logo ela sai!
Meu recorde foi a viagem de 800 km em uma semana com o
Velomobiel, mas meu querido esportista Joris pedalava 75 km diários para ir ao
trabalho. Assim economizava combustível, fazia esporte e se livrava dos
engarrafamentos de nossa casa até Antuérpia, cidade onde trabalhava na época.
Ele fez 12 mil quilômetros em um ano de uso na Bélgica antes de vendê-lo tristemente
quando nos mudamos para a Espanha. Na época em que fomos para Madrid, a cidade
não possuía ciclovias ou faixas para bicicletas, manter o hábito de ir ao
trabalho pedalando como fazia na Bélgica representava um risco para sua vida.
Para não nos despedirmos de vez da prática ciclista, adquirimos um triker que
trouxemos para a Sandlândia na mudança, mas ele não foi bem recebido por nossos
seguranças aqui na Arábia e tivemos que enviá-lo para o Brasil.
Com minha preocupação e com dor no coração, Joris pedala por
São Sebastião, no litoral paulista. Nossa cidade não tem ciclovias e cuidados
com os ciclistas, entretanto estamos felizes por perceber que o povo brasileiro
começa a reconhecer a importância e o valor deste meio transporte. Sigo aqui
acreditando que uma hora dessas as ciclovias serão implantadas por todos os
lados do nosso lindo Brasil. Apesar de trabalhar com petróleo, ele afirma que o
Velomobiel, tal como as bicicletas, será o transporte do futuro. O pretinho
poderoso está com seus anos contados.
Na Sandlândia, país onde a mulher tem menos ou quase nenhuma
liberdade de expressão, não posso ir para a rua de bicicleta com roupa
esportiva nem sair para dar uma corridinha no parque, a não ser que o faça com
a abaya (uma espécie de burka) que só vai me causar uns bons tombos. Então
resolvi praticar no condomínio onde moramos o SUP stand up, tênis e volleybol.
Aqui posso andar à vontade, com roupas mais adequadas para este calor danado
que sempre temos durante todo ano.
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