Por Isabel Galvanese
Pense nesta imagem: A primeira viagem de um menino, Erasmo,
de 9 anos com seu amigão e a família dele. Saíram de São Paulo rumo a praia de
Toque Toque Pequeno, num Fusca vermelho.
Era na década de 70 e essa viagem com estradas precárias
durava 5 horas no mínimo! De repente a estrada ficou interditada porque caiu
uma barreira e encheu de lama de um jeito que não dava para passar.
Já estava anoitecendo. Isso sempre acontecia, mas para
Erasmo era diferente, esta era sua primeira viagem de final de semana com um
amigo. A mãe, ao notar a impaciência dos meninos e a certa aflição do amigo,
tira da bagagem duas carambolas. Pronto, Erasmo comia sua primeira carambola! E
esse gosto de carambola-estrada-interditada marcou a sua vida.
Ao nos encontrarmos 40 anos depois, ele conta com tanto
carinho esta história que confesso que fiquei com o olho meio molhado. Começou
falando assim:
"Às vezes penso nas pessoas que me mostraram pela
primeira vez uma fruta..." e emendou contando a história da carambola, de
como ele tinha carinho pela mãe do amigo por ter apresentado essa fruta
deliciosa. Parece até que aquela história já estava pronta para ouvirmos juntos
naquela manhã, sentados numa padaria, depois de um passeio de bicicleta.
Erasmo, o amigo e eu.
Pensei, essa história da primeira fruta deve acontecer com
muitas pessoas, e comecei a perguntar para os amigos que frutas marcaram a vida
deles. O curioso é que nunca a fruta está associada a frase: Comprei no mercado
e comi tal fruta. As frutas da memória são comidas na maioria das vezes no pé,
ou então, em condições especiais como a de Erasmo.
Ir para um pomar somente com uma faquinha de serra e se
esbaldar com a variedade de laranjas, mexericas, peras, ameixas, essa é a
lembrança boa de muita gente. Também ouvi que terminar o dia com os primos
fazendo guerra de mexerica podre no pomar é muito emocionante!
Ou ainda, ficar no pé de uma jabuticabeira comendo muito,
com a desculpa que está tentando achar a que seja mais doce para terminar de
comer, muitas vezes essa comilança se transforma numa tremenda dor de barriga.
Aliás, jabuticaba é uma das frutas que só tem graça no pé, assim como a
pitanga, moranguinho silvestre, jambolão, jacas e todas essas que precisam ser
comidas na hora se não estragam.
Minha mãe conta que sempre depois da escola ela e as amigas
desciam a pé a Rua Augusta, em São Paulo, para passarem por uma venda e comprar
umas coisinhas. Enquanto as amigas compravam biscoitos e balas ela preferia uma
suculenta goiaba vermelha. Para ela até hoje goiaba tem gosto de
depois-do-colégio-com-as-amigas. Tem gosto melhor que esse?
Antigamente as frutas tinham épocas específicas, não se
achava manga fora do verão, nem morango que não fosse no inverno, o pêssego
perto do fim do ano e o abacaxi em fevereiro. E assim esperávamos ansiosos à
época da fruta. E fruta na época certa tem o gosto certo e não esse gosto de
plástico que a gente nem sabe o que está comendo.
O melhor mesmo para comer a fruta no seu melhor ponto é
plantar arvores frutíferas no seu jardim, em praças ou nas calçadas da sua rua.
Escolher a árvore certa para o lugar que você mora é certeza de colheita farta.
Por aqui dá bem o abacate, o limão cravo, a pitanga, a jabuticaba, a acerola, a
carambola e a manga que só deve ser plantada se você tiver um grande espaço.
Uma das plantas que eu acho incrível no jardim é a bananeira.
Eu prefiro plantar as bananas nanicas, que tem esse nome porque o pé é pequeno,
com no máximo 2 metros, super ornamental! E as frutas não tem nada de nanicas,
são enormes e muito saborosas!
E banana, para os bananófilos, é a rainha das frutas!
Podemos comer 365 dias por ano. Comemos tanto e a todo momento que as
lembranças são de uma vida inteira!
YES! Nós temos banana!
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