Neste final de semana, eu aproveitei para organizar as
louças, reunindo-as de acordo com as suas funções, formatos e cores, de uma
forma que eu possa encontra-las com facilidade.
Eu aproveitei para verificar as condições dos jogos de bowls,
se estavam completos ou se sofreram algum desgaste por causa do tempo de uso,
como lasquinhas e rachaduras, por exemplo.
Claro, que ao olhar com atenção eu notei alguns defeitos e
fiquei aborrecida porque gosto muito dos meus jogos de cerâmica, a ponto de
lembrar onde comprei cada um deles.
Foi então que eu lembrei que, na cultura japonesa, as peças
de cerâmica quebradas tem um significado especial e não são jogadas fora ou
deixadas de lado quando apresentam algum defeito.
Pelo contrário, as peças são reparadas através da técnica
Kintsukuroi, que utiliza uma mistura de laca e pó de ouro, o que ressalta e
valoriza as rachaduras.
Eles acreditam que quando algo sofre algum dano, passa a ter uma história e que se há conserto, vale a pena repará-lo.
A maioria de nós não tem esse costume e basta uma louça
apresentar uma lasquinha para nos livrarmos dela. Isso quando não nos livramos
de um jogo completo porque uma peça está quebrada.
Nós vivemos em uma época onde consumimos muito mais por
prazer do que por necessidade e substituímos as coisas antigas pelas novas sem
nenhuma dor na consciência, mas existem exceções.
As exceções ocorrem quando perdemos um objeto que nos faz
recordar momentos e pessoas especiais.
Quando isso acontece deixa de ser apenas uma louça quebrada.
Isso aconteceu comigo quando eu quebrei a tampinha de um açucareiro antigo que
ganhei da minha avó.
Ela decidiu me presentear com ele ao perceber o meu
interesse e dentro colocou um recadinho que guardo até hoje:
“Para minha neta querida, com muito amor e carinho, da sua avó que muito te ama. Zenita”.
Bem, quando a tampinha quebrou por um descuido, eu tentei repará-la
de todas as maneiras, mas não consegui e finalmente decidi aceitar que algumas coisas
não podem ser restauradas para voltarem a ser como antes.
A peça incompleta continua tendo uma grande importância para
mim, eu acho que hoje mais do que ontem porque agora eu sei o quanto seria
triste se ela não existisse mais.
O açucareiro se transformou em um pequeno vasinho de flores,
enfeita a mesa de jantar em alguns dias de festa e nos outros dias fica em uma
posição de destaque na estante. Adoro olhar para ele.
Às vezes eu penso no quanto seria bom se pudéssemos consertar
os relacionamentos da mesma forma que consertamos um vaso de cerâmica, colando
os caquinhos com paciência e sem desanimar diante de um corte ou de uma peça
que não se encaixa com perfeição.
No quanto seria especial se dedicássemos um tempo maior para
restaurar algumas amizades e histórias de amor ao invés de simplesmente jogá-las
fora por não serem perfeitas, sem dar tempo para que pudessem se transformar em
algo valioso e único.
E que seria realmente incrível se conseguíssemos conviver com as imperfeições dos outros, sem querer escondê-las e sem desprezá-las, aceitando que no fundo todos nós somos iguais, mas em tempos diferentes.
As peças quebradas são apenas algo a ser descartado se não
fosse o valor sentimental que damos a elas. São apenas objetos como outro
qualquer se não fosse o amor e o afeto que simbolizam para nós. A mesma coisa
acontece com as pessoas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário