quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Gil Pacini - As coincidências (Parte I)



À esquerda, Vô Alcides na época do Exército; à direita, seu aniversário de 90 anos

Andressa Rodrigues
Uma das lembranças mais adoráveis que tenho do meu avô materno são suas histórias sobre o Exército. Alcides Portes foi ex-combatente da segunda guerra mundial. Encerrou a carreira militar como segundo tenente. Seus feitos enchiam a casa de alegria e diversão, especialmente durante as férias escolares, quando eu, meus irmãos e primos dormíamos lá. Sempre com uma felicidade contagiante, um humor sem igual e uma piada para contar, meu avô era a atração!

Na adolescência eu morei alguns anos ao lado dele e da minha avó. Fomos vizinhos de porta. Aproveitei o período para ouvir, novamente, seus relatos e me encher ainda mais de orgulho. Vô Alcides viveu conosco até seus 90 anos (partiu em dezembro de 2010).
Recentemente eu revivi essas memórias de uma maneira inesperada. Por intermédio de uma amiga conheci o senhor Gil Pacini, ex-prefeito de São Sebastião. Aos “95 anos e 10 meses de idade”, como fazia questão de me dizer, Seu Pacini revelou a minha amiga que temia morrer esquecido. Decidi, então, que iria entrevistá-lo e ajudar, de alguma maneira, a manter sua história viva na cidade. Combinei com as netas dele como seriam os encontros, peguei meu gravador e parti cheia de curiosidade.
Nosso primeiro bate-papo ocorreu quase dois meses atrás, em 16 de junho. Comecei perguntando-o sobre local de nascimento, infância, juventude... Além de descobrir quem foi o “prefeito Gil Pacini” eu também queria saber das histórias fora da política. E foi aí que me surpreendi. Quando o questionei se ele sempre havia morado em São Sebastião, a resposta foi: “Não. Saí um pouco daqui. Passei uns anos na cidade de Caçapava devido ao Exército”. Parei por alguns instantes e continuei: “Quando foi isso?”. Seu Pacini, então, revelou: “Na segunda guerra mundial. Eu tinha 18 anos. Recebi uma convocação e fui para o 6º Regimento de Infantaria”. Que coincidência! Meu avô ingressou no Exército justamente pelo regimento de Caçapava!

Imagem de Luciano Vieira, da prefeitura de São Sebastião

Gil Pacini seguiu seu relato. “Entrei como soldado. Depois fiz curso para cabo e, em seguida, para sargento. Como sargento, me colocaram na Seção Mobilizadora. Era responsável em verificar e comunicar à família sobre o desaparecimento de militares. Até que a seção foi transferida para a Itália e eu deveria ir também. Eu estava na estação de trem para embarcar para o Rio de Janeiro quando veio um comunicado mudando os planos, dizendo que ‘Gil Pacini precisava ficar para ajudar outros dois sargentos em Caçapava’. Eu ia ser ex-combatente”.
A euforia tomou conta de mim naquele momento. Perguntei se ele havia conhecido meu avô. Ele, naturalmente, disse que não se lembrava. Contei sobre os “causos” do Vô Alcides, as recordações e conforme ia falando era como se meu avô estivesse ali na minha frente. Que alegria!
Encerrei aquele primeiro encontro prometendo voltar. E assim o fiz quatro dias depois. Mas interrompi as reuniões em julho por motivos diversos. Uma pena! Fiquei devendo uma sessão de fotos. Iniciei o mês ontem com essa meta em mente. Como Seu Pacini ia fazer aniversário em agosto, estava decidida a escrever um texto para homenageá-lo. Mas hoje acordei com a notícia de seu falecimento... Aos 95 anos e 11 meses.
Hoje passei a tarde ouvindo nossas gravações. Dei risadas e me emocionei. Vi que tenho um tesouro guardado comigo e, aos poucos - como havia prometido a ele - pretendo compartilhar. Tenho certeza que Dona Irene, sua esposa, o recebeu com a maior festa! Obrigada, Seu Pacini!






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