À esquerda, Vô Alcides na época do Exército; à direita, seu aniversário de 90 anos |
Andressa Rodrigues
Uma das lembranças mais adoráveis que tenho do meu avô
materno são suas histórias sobre o Exército. Alcides Portes foi ex-combatente
da segunda guerra mundial. Encerrou a carreira militar como segundo tenente.
Seus feitos enchiam a casa de alegria e diversão, especialmente durante as
férias escolares, quando eu, meus irmãos e primos dormíamos lá. Sempre com uma felicidade
contagiante, um humor sem igual e uma piada para contar, meu avô era a atração!
Na adolescência eu morei alguns anos ao lado dele e da minha
avó. Fomos vizinhos de porta. Aproveitei o período para ouvir, novamente, seus
relatos e me encher ainda mais de orgulho. Vô Alcides viveu conosco até seus 90
anos (partiu em dezembro de 2010).
Recentemente eu revivi essas memórias de uma maneira
inesperada. Por intermédio de uma amiga conheci o senhor Gil Pacini,
ex-prefeito de São Sebastião. Aos “95 anos e 10 meses de idade”, como fazia
questão de me dizer, Seu Pacini revelou a minha amiga que temia morrer
esquecido. Decidi, então, que iria entrevistá-lo e ajudar, de alguma maneira, a
manter sua história viva na cidade. Combinei com as netas dele como seriam os
encontros, peguei meu gravador e parti cheia de curiosidade.
Nosso primeiro bate-papo ocorreu quase dois meses atrás, em
16 de junho. Comecei perguntando-o sobre local de nascimento, infância,
juventude... Além de descobrir quem foi o “prefeito Gil Pacini” eu também
queria saber das histórias fora da política. E foi aí que me surpreendi. Quando
o questionei se ele sempre havia morado em São Sebastião, a resposta foi: “Não.
Saí um pouco daqui. Passei uns anos na cidade de Caçapava devido ao Exército”.
Parei por alguns instantes e continuei: “Quando foi isso?”. Seu Pacini, então,
revelou: “Na segunda guerra mundial. Eu tinha 18 anos. Recebi uma convocação e
fui para o 6º Regimento de Infantaria”. Que coincidência! Meu avô ingressou no
Exército justamente pelo regimento de Caçapava!
Imagem de Luciano Vieira, da prefeitura de São
Sebastião
|
Gil Pacini seguiu seu relato. “Entrei como soldado. Depois
fiz curso para cabo e, em seguida, para sargento. Como sargento, me colocaram
na Seção Mobilizadora. Era responsável em verificar e comunicar à família sobre
o desaparecimento de militares. Até que a seção foi transferida para a Itália e
eu deveria ir também. Eu estava na estação de trem para embarcar para o Rio de
Janeiro quando veio um comunicado mudando os planos, dizendo que ‘Gil Pacini
precisava ficar para ajudar outros dois sargentos em Caçapava’. Eu ia ser
ex-combatente”.
A euforia tomou conta de mim naquele momento. Perguntei se
ele havia conhecido meu avô. Ele, naturalmente, disse que não se lembrava.
Contei sobre os “causos” do Vô Alcides, as recordações e conforme ia falando
era como se meu avô estivesse ali na minha frente. Que alegria!
Encerrei aquele primeiro encontro prometendo voltar. E assim
o fiz quatro dias depois. Mas interrompi as reuniões em julho por motivos
diversos. Uma pena! Fiquei devendo uma sessão de fotos. Iniciei o mês ontem com
essa meta em mente. Como Seu Pacini ia fazer aniversário em agosto, estava
decidida a escrever um texto para homenageá-lo. Mas hoje acordei com a notícia
de seu falecimento... Aos 95 anos e 11 meses.
Hoje passei a tarde ouvindo nossas gravações. Dei risadas e
me emocionei. Vi que tenho um tesouro guardado comigo e, aos poucos - como
havia prometido a ele - pretendo compartilhar. Tenho certeza que Dona Irene,
sua esposa, o recebeu com a maior festa! Obrigada, Seu Pacini!
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