O livro conta a história do maior acidente industrial que já
ocorreu no mundo, a
partir da visão de diversos personagens, moradores da cidade de Bhopal, na Índia, o que torna a narração do acontecimento ainda mais real
e emocionante.
A história começa muitos anos antes do acidente, quando uma
família extremamente pobre é expulsa da sua terra em Mudilapa, na Índia, por
enxames de pulgões assassinos que destroem as suas plantações e se muda para
uma favela no bairro de Orya Bastí, em Bhopal, com a esperança de ter uma vida
melhor.
A desgraça dos camponeses indianos, conforme contam os
autores, era apenas um pequeno episódio de uma tragédia que assolava o planeta
desde os primórdios da civilização.
Para explicar melhor a situação, o livro conta alguns exemplos
de combate às pragas que acabavam com as plantações citando casos ocorridos na antiga
China, Roma e Europa Medieval.
Como você já pode perceber, além de contarem a história da
tragédia, os autores foram além e se aprofundaram no tema.
Com isso, eles explicam porque uma fábrica de pesticidas
norte-americana foi construída no coração da antiga cidade indiana de Bhopal.
A fábrica pertencia a multinacional americana Union Carbide,
uma fabricante de produtos químicos, plásticos, placas fotográficas, filmes,
eletrodos industriais, resinas de poliéster, fibra de vidro e maquinaria.
A Carbide observando que a população de diversas partes do
mundo estava sendo atingida pela fome por causa das pragas que destruíam a
agricultura, reuniu três jovens engenheiros que tiveram a missão de criar um pesticida
milagroso, o Sevin.
No entanto, esse pesticida não tinha nada de milagroso, ele era
feito com produtos químicos altamente tóxicos e, durante a sua fabricação,
produzia um gás mortal.
Para um povo que lutava desesperadamente para se livrar da
fome, depois dos períodos de escassez de alimentos no início dos anos 70, a
chegada da fábrica foi recebida com muita esperança pelo povo indiano.
Essa esperança fez com que os governantes da Índia não dessem
muita atenção ao risco que era produzir o Sevin e liberassem uma licença pra a
fabricação anual de 5 mil toneladas desse produto, bem no coração de Bhopal,
uma área super povoada.
A quantidade de Sevin produzida na fábrica era considerada
alta até mesmo para o engenheiro responsável pelo projeto, mas os diretores, “os
tubarões”, só visualizavam os lucros.
“Não tem nada a temer,
querido senhor Muñoz. Sua fábrica será tão inofensiva quanto uma fábrica de
tabletes de chocolates”.
Em 04 de maio de 1980, a “Bonita Fábrica”, como era chamada
pelos indianos, começou a funcionar. No início, os diretores enviaram um dos
seus melhores engenheiros para administrá-la, chamado Warren Woomer.
Nesta época, o sonho de qualquer morador de Bophal era
trabalhar na fábrica da Carbide.
Nem mesmo a morte de um operário, a intoxicação de outros 25
e o aviso de um jornalista que denunciava o risco de uma tragédia sensibilizaram
o governo da Índia, a direção da Carbide ou a população.
“Todo mundo sabe
disto: o amor é cego. Sobretudo quando o objeto da paixão é um monstro
industrial como uma fábrica de produtos químicos”.
A expectativa de lucro com a fábrica de Bhopal não se cumpriu.
Quatorze anos, seis meses e dezessete dias depois de um pedreiro ter colocado o
primeiro tijolo da fábrica de Carbide em Bhopal, seu último dirigente americano
a deixava. Em seu lugar, assumiu o indiano Jagannathan Mukund, que ficou como
único capitão a bordo.
Mukund tomou decisões
que tiveram graves consequências, como autorizar que alguns equipamentos essenciais
para a segurança fossem desativados A “bonita fábrica” foi abandonada e entrou
em processo de degradação.
Nesta época, a Carbide havia decidido se desfazer da fábrica
e se preparava para transferi-la para outro país de 3º Mundo, cogitaram o
Brasil, inclusive.
No dia 3 de dezembro de 1984, meia- noite e cinco, uma nuvem
de gás tóxico escapa da fábrica e atinge a cidade de Bophal. Resultado: 30 mil
mortos e 500 mil feridos. É a catástrofe industrial mais mortífera da história.
Apesar de citar vários termos técnicos, nomenclaturas de gases
e de outros produtos químicos, o que poderia tornar a leitura do livro
cansativa para quem não se interessa por esse tipo de assunto, a forma como a
história é narrada, através dos olhos dos moradores, ressaltando as tradições,
crenças e romances, traz leveza e desperta o interesse.
As festas e as alegrias dos deserdados da favela. Eunucos e
princesas que enfeitiçam os engenheiros norte-americanos. Um trabalhador louco
por poesia que desencadeia o Apocalipse. Médicos heroicos que morrem
envenenados fazendo boca a boca nas vítimas. Uma recém- casada que se salva das
chamas de uma fogueira graças ao pequeno crucifixo que leva ao pescoço...
Ao mesmo tempo em que viramos as páginas e nos aproximamos
dos personagens, a história também passa a ficar mais tensa porque no final
todos sabemos o que vai acontecer, só não podemos prever quem sobreviverá.
Parte dos direitos desse livro financia ações humanitárias
em Bophal, onde um dos autores, Dominique Lampierre, criou uma clínica
ginecológica para as vítimas que não possuem recursos financeiros, com o
intuito de incentivar o diagnóstico precoce do câncer genital, uma das consequências
do desastre. Prepare-se para ler uma história verídica e emocionante.
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