terça-feira, 20 de setembro de 2016

Ceará – Cumbuco, Preá e Jeri: Uma viagem na direção dos ventos



A capital do Ceará, Fortaleza, é uma linda cidade, com muitos atrativos para o turista, mas para os amantes de esportes radicais, movidos pelo vento, o destino é mais adiante e leva até pequenas vilas de pescadores, Cumbuco, Preá e Jericoacoara.


Esses vilarejos aos poucos vão sendo transformados com a presença cada vez maior de jovens esportistas e aventureiros, principalmente europeus.
Enquanto eu estive visitando essas praias, aproveitei para conversar com algumas pessoas e perguntar se não sentiam falta do conforto e praticidade da vida na cidade grande e todas me disseram que não. Quanto mais simples e natural, maior é a admiração delas e a vontade de ficar. 
  

Existe, porém, um fator que atrai todas elas a esses lugares: o vento forte e constante que sopra no Ceará praticamente o ano todo e oferece condições ideais pra a prática de esportes radicais, como o kitesurfe e windsurfe. 
Ir de carro de Fortaleza até Cumbuco levam 40 minutos. Esse é um dos principais pontos de encontro de velejadores, como é o caso do meu super marido. 


Nós ficamos hospedados na Pousada Kite Cabana, não é um lugar luxuoso, mas oferece tudo que um kitesurfista precisa para curtir as férias.  
Para quem não pratica esse esporte, como é o meu caso, o vento torna o banho de mar nesta praia um pouco desconfortável. Eu aproveitei os dias para tomar sol, ler e fazer caminhadas. Levei dois livros nesta viagem e terminei todos eles no Ceará, kkkkk.   


Todos os dias no final da tarde, assistíamos ao pôr-do-sol e depois íamos até o centro, onde me surpreendi ao encontrar ótimos restaurantes, como o “Secret Spot”, excelente opção para quem gosta de comer frutos do mar. O ambiente e o atendimento são excelentes, assim como a carta de vinho. 


No centro de Cumbuco existem diversas placas em frente a comércios no alfabeto hangul, que mostra a forte presença de coreanos. Eles vieram atraídos pela construção de uma siderúrgica no Porto de Pecem, alguns abriram comércios e decidiram ficar nesta praia.
Enquanto os comércios se desenvolvem na rua principal, chamada de Avenida Central dos Coqueiros, basta uma pequena caminhada ao redor para perceber que os moradores ainda preservam antigos hábitos. 

As mulheres lavam roupas na calçada e estendem no meio da rua em varais improvisados, enquanto os homens arrumam as jangadas, barcos típicos de madeira, usados para pesca e passeio turístico.
Durante o tempo em que estive nesta vila, assisti ao I Circuito de Jangadas do Dia dos Pais e a praia ficou bastante animada. O colorido das velas das jangadas se misturou ao do kite e do wind. Definitivamente é o paraíso dos velejadores. 


Em Cumbuco, na companhia de um guia (R$ 50,00) também fomos conhecer a Lagoa do Cauípe, com vários pontos de saída de velejo. 


Se você não veleja, eu aviso que esse lugar está longe de ser ideal porque a água é escura e venta bastante. Ao redor da lagoa tem alguns barzinhos, mas os preços não são muito convidativos para os brasileiros. A porção de camarão, por exemplo, custou R$ 40,00. 


Para chegar a essa lagoa é preciso usar uma estrada de terra e atravessar uma ponte estreita, o percurso demora cerca de meia hora.
Antes de ir embora de Cumbuco, eu comprei o livro Vidas ao Vento, de Giselle Nuaz, jornalista e virginiana igual a mim e que durante parte do ano administra a Pousada Kite Cabana.
O livro, que é resultado de suas experiências como velejadora, conta como o vento do Ceará mudou a história de lugares e de personagens que vivem neste belo litoral. 
 

Um exemplo de mudança está acontecendo na pequena vila chamada Preá, na cidade de Cruz, onde todos os hotéis estavam praticamente lotados no mês de agosto, baixa temporada no Brasil, mas férias de verão na Europa.
De Cumbuco até o Preá demora cerca de 3 horas e quase não se vê comércio. Nós almoçamos em Paraipeba, à beira da estrada, onde existem vários restaurantes de comidas típicas, com preços justos, e lojas de artesanatos. 


Eu aconselho a parar nesta cidade para almoçar porque depois não existe muita opção. É uma estrada que parece interminável. Além disso, também dou a dica para viajar de manhã porque um trecho dessa rodovia está em obras e é mal sinalizado.
No Preá, onde a infraestrutura ainda é mais simples do que em Cumbuco, cada dia chegam mais europeus dispostos a começar uma nova vida. 


Esse é o caso de Alex, um analista de sistemas, dono da pousada Preamar, localizada quase no final da praia e onde ficamos hospedados, que trouxe toda a família da Áustria para morar na vila.  
A partir do próximo ano, os dois filhos vão estudar na escola local e a esposa, que é médica, vai administrar a pousada. Uma mudança radical – como acordar ouvindo Mozart e dormir ouvindo Wesley Safadão, mas que parece não assustá-los nem um pouco. 


A família, que aos poucos aprende a falar a língua portuguesa, já tinha até adotado um cachorrinho doente, que veio a falecer no dia seguinte a nossa chegada, como nos contou com os olhos cheios de lágrimas.
Na pousada, eu também conheci a parisiense Lorin, formada em cinema, e seu filhinho Julio, de apenas 01 ano. Eles ficariam ali até o marido encontrar um terreno onde pudessem abrir um comércio, pousada ou restaurante. No dia em que parti, eles também estavam de mudança para uma casa na vila.  “Une nouvelle vie!”.Ela me disse quando nos despedimos. 


Existem várias opções de passeios para fazer no Preá, mas não é porque a vila é simples que os preços são baixos. Nada disso! Tudo é cobrado e bem cobrado. Por exemplo, um passeio de buggy até a Lagoa Azul e Paraíso, com duração de 30 minutos, custa R$ 200,00. 


Na Lagoa Paraíso o turista encontra uma boa estrutura no restaurante “Alkimist”, com espreguiçadeiras na areia e garçons vestidos no estilo “árabe cearense”, mas para sentar ali é preciso pagar R$ 50,00/ casal.


A grande atração do lugar são as redes que ficam dentro da lagoa, um convite para relaxar. O vento atrapalha um pouco, mesmo assim é uma boa experiência.
De volta à praia do Preá, existem alguns restaurantes bem simples, construídos com madeira e chão de areia fofa, onde os preços são mais razoáveis e se come muito bem. Aproveite para saborear a caranguejada no restaurante do Tobias. 


A pequena Vila do Preá fica a poucos quilômetros de Jericoacoara, onde o dia e a noite são mais agitados e refinados. Refinados dentro do estilo rústico, diga-se.
Para ir até Jeri, nós contratamos um guia para dirigir o nosso carro porque parte do caminho é em meio às duas. Ele cobrou R$ 50,00 ida/ volta. 


Esse meio de transporte foi sem dúvida o mais econômico e confortável. Outras opções seriam contratar um buggy (R$ 200,00) ou seguir em um pau de arara, uma caminhonete adaptada com bancos de madeira.O guia nos deixou de carro na vila e depois ficou nos aguardando no estacionamento. 


Nós chegamos a Jeri a tempo de assistir ao pôr-do-sol nas dunas, uma lindeza! Depois seguimos para o centrinho da vila, não sem antes passar por diversas barracas de bebidas e artesanatos, além de muitos restaurantes e lojinhas. 


A falta de luz elétrica nas ruas e o chão de areia tornam o lugar charmoso, mas se comparada com o Preá, Jeri é uma vila glamourosa.
Aproveitamos para experimentar a caipirinha de tangerina com gengibre e pimenta, que foi indicada por um amigo, e depois procuramos um barzinho com música ao vivo pra continuar a noite.  

Gostei muito de conhecer Jericoacoara, mas prefiro praias mais desertas por isso fiquei contente em poder retornar para o Preá.
O vento do Ceará tem realmente atraído muita gente disposta a transformar suas vidas e transformado pequenas vilas de pescadores em points disputados e conhecidos de velejadores do mundo inteiro.
Será que esse vento tem alguma magia que enfeitiça essas pessoas? Será que essa magia funciona também em quem não pratica esportes radicais?  Conviver 24 horas com o vento não é pra qualquer um, isso eu posso dizer. 


Mas, se junto com o vento vem outros atrativos, como uma praia deserta e tranquila, sabores e aromas maravilhosos e a amizade sincera de uma gente alegre e festeira, essa magia pode funcionar. Funcionou comigo.
Nesses cafundós, onde o vento não se cansa de fazer a curva, é fácil ser feliz. Simples assim.

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