Por Daniela Carvalho
Existem sentimentos que adormecem, mas nunca se despedem da
gente de verdade.
Ficam guardadinhos em algum lugar entre o coração e o
cérebro. A gente abaixa a guarda e eles aparecem do nosso lado. E vem a
pergunta:
- Mas, onde esses sentimentos estavam o tempo todo?
É como uma bagagem que carregamos pela vida, sem nos darmos
conta.
Podemos carregar uma bagagem cheia de tralhas, com
ressentimentos, traumas e frustrações durante um tempão sem percebermos.
Mas, então, de repente todo o peso do mundo cai nas nossas
costas e passamos a sentir dores horríveis. Quando não é o corpo que apresenta
sinais de desgaste é a mente.
Se nós fossemos máquinas poderíamos controlar com exatidão
os sentimentos que guardamos dentro de nós e o que deveríamos jogar fora, assim permaneceríamos
apenas com o essencial para a nossa felicidade.
Mas, somos feitos de carne, osso e um espírito voluntarioso.
O que podemos fazer se somos apenas seres humanos?
Eu escrevo esse texto pensando nos meus amigos que estão
remexendo nas suas bagagens e encontrando muitas coisas do passado.
Alguns descobriram que nunca conseguiram demonstrar seus sentimentos por uma
pessoa que já partiu desta vida para outra melhor e se sentem culpados por isso.
Outros que a perda de um emprego causou mágoas tão profundas
que abalou sua autoestima e a confiança na sua capacidade profissional, fazendo
com que passassem a aceitar menos do que merecem.
E há aqueles que ainda sentem sangrar a ferida aberta pela
traição do marido/ amigo apesar de todas as provas de amor que surgiram depois
disso.
Você consegue acreditar todos viveram muitos anos, alguns
quase uma vida inteira, pensando que já tinham superado esses sentimentos?
Mas, aí algo aconteceu. Uma coisa boba trouxe à tona o
passado e eles perceberam que os sentimentos de culpa, de medo, de orgulho
ferido sempre estiveram dentro deles e faziam um peso absurdo.
Um peso que impediu que seguissem em frente e voltassem a
amar e a confiar neles mesmos e nos outros. Um peso que os impediu de serem
completamente e absurdamente felizes.
Quem já passou por isso sabe que quando isso acontece é tão
forte que não existe nenhum lugar onde se esconder. Então, vem outra pergunta:
- Porque levo esse peso comigo há tanto tempo e não me dava
conta disso?
Em alguns casos, eu acredito que é uma questão de sobrevivência. Quando é
preciso optar entre morrer de dor ou fugir para o abismo fundo da ignorância, poucos
mantem a lucidez.
Mas, sobreviver não é o bastante para todos. Alguns
conseguem, mas muitos não se contentam com isso.
E para esses muitos de nós que desejamos ser inteiros em
tudo o que fazemos reencontrar com o passado é só questão de tempo.
- Mas, o que eu faço quando isso acontecer comigo?
Eu não sei. Se eu soubesse não estaria aqui martelando as
teclas do computador e achando que alguém vai ler e entender o que eu escrevo,
sentindo que isso me faz economizar horrores em terapia.
Também sou uma peregrina que deseja viver tudo por inteiro e
sempre viaja na direção dos sentimentos extremos, indo do céu ao inferno às
vezes em um único dia.
Não tenho a fórmula para fazer com que a dor do passado
desapareça e mesmo que eu tivesse acho que não serviria para você.
Escrevo isso porque se tem algo que eu aprendi nas minhas
viagens do céu ao inferno é que as respostas para as minhas dores estão dentro de mim e para chegar mais rápido até elas eu preciso carregar uma bagagem
mais leve, sem tanto medo, orgulho, egoísmo para que sobre mais espaço para a Fé.
- E o que significa ter fé?
Para alguns essa palavra está apenas relacionada à religião,
mas eu vou além.
Para mim a fé é um sentimento. Algo que me diz que eu nasci
para ser feliz e que tudo o que eu preciso é acreditar em mim, na minha
capacidade de amar, perdoar, realizar, vencer.
Se eu amar, vou receber amor.
Se eu perdoar, vou ser perdoada.
Se eu acreditar na vida, nos sonhos... Ah! Não tem nada que
eu não possa conseguir.
Isso eu defino como Fé.
Posso não ser amada ou perdoada por todos. Nem pela maioria.
Posso não ter todos os sonhos realizados, nem um terço do que eu gostaria. Mas, então, vem a minha fé e diz:
Continue porque você está nesta vida para ser feliz. Não é algo que eu vejo, apenas sinto e confio.
Assim como acredito no poder da fé, eu também acredito em
anjos.
Eu acredito que existem anjos na terra para os momentos em
que estamos carregando todas essas bagagens pesadas nas costas, desesperados e
solitários.
Mas, existe um problema porque os anjos só conseguem se aproximar
quando baixamos as nossas defesas e abrimos os nossos corações.
É uma linguagem irracional e amorosa. Onde um coração entende outro coração.
Seguir em frente na estrada da vida sem carregar o peso do passado e com a fé constante si mesmo exige coragem.
É um caminho solitário, muito íntimo e leva algum tempo.
Mas, quando sinto que estou prestes a desistir, penso: Eu não posso parar agora quando o melhor da vida está logo ali.
Quando falta coragem e isso acontece muitas vezes, eu me alimento de fé.
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