Eu sou fã de comédia romântica, assisti “Meu passado me
codena” e acompanho o trabalho da autora, principalmente a sua coluna no Jornal
Folha de São Paulo. Sempre irônica, escrachada, ela aborda os tema com uma
sinceridade desconcertante, mas eu adoro.
Numa noite, estava à toa procurando por programas fúteis na
TV (engana-se quem acha que assisto TV para ver programa cabeça), quando vi a
Tati Bernardi dando uma entrevista para divulgar esse livro.
Claro, que eu parei para ouvi-la e fiquei surpresa ao saber
que uma pessoa capaz de fazer tanta gente rir, luta diariamente com monstros impiedosos,
como crises de pânico, ansiedade extrema e fobias. Na primeira oportunidade eu comprei o livro.
Ele é bem fininho, tem uma aparência quase inofensiva, mas não se engane.
Mais uma vez a aparência esconde um universo de coisas muito
mais pesadas e complexas, que começam a ser percebidas logo nas primeiras
páginas quando ela descreve sobre o seu pânico de desintegrar até deixar de
existir.
Ela mostra todas as suas vulnerabilidades de uma maneira tão
crua e sem piedade consigo mesma, que em alguns momentos eu pensei: - Essa
mulher é louca mesmo! kkk.
Mas, confesso que por diversos momentos senti um alívio ao
perceber que não preciso me esforçar tanto para esconder as minhas loucuras e
parecer ser normal.
A forma como o livro foi escrito me deu a sensação de que estávamos
batendo um papo. Ela escreve de forma tão rápida e fácil que parece que está falando
e não escrevendo.
Numa das passagens, ela conta que decidiu escrever o livro
sobre o medo, após uma turbulenta viagem de avião, quando estava indo encontrar
um homem casado que tinha, naquele dia, saído de casa para ficar com ela.
“Aquele avião estava
fadado ao insucesso. Programado para a queda. Precisava falar para o tiozinho
voltar para a mulher porque, mesmo que agora a nossa relação fosse a mais
verdadeira e infinita do universo, acabaria em poucas semanas”.
Em outro capítulo, ela conta sobre o quanto sente pavor das
festas de Ano-Novo, principalmente dos fogos de artifícios que deixam tudo com
cara de “festejo e obrigatório”, comparando-os com tiros de canhão no peito.
Ela explica sobre a vez que aceitou passar os seis dias de
festa com o namorado e alguns casais na Praia Preta, em São Sebastião. “Coisa demais para pensar, coisa demais para
lidar. Seis intermináveis dias em Marte, em carne viva, correndo o risco de
travarem o meu carro, travarem a estrada, travarem a minha saída com frases
como: - fica aí, doida”.
A sua relação com a mãe, os namorados, as terapias
alternativas, as primeiras crises de pânico nos aeroportos, supermercados,
restaurantes, reuniões de trabalho... Tati relata tudo isso e não esconde nada:
as mentiras, os piores pensamentos e o vômito.
É um livro que parece ter sido escrito com o coração palpitando
e com os pensamentos em ritmo alucinante.
Ela também conta a sua intimidade com o uso de remédios antidepressivo
e tarja- preta.
“O que posso dizer, vendo boa parte da minha família e
amigos e casos amorosos viciados em antidepressivos e tarja- preta, é que essa
coisa entrou em nossas casas como novela da Globo mas nem por isso é boa,
exatamente como novela da Globo”, ela explica.
Dorflex, Dramin, Efexor, Rivotril.... Tati dá uma aula de
química aos avessos, do tipo: Tudo o que você não deve aprender se quiser
continuar sadio. Eu quase escrevi: para continuar normal. Mas, depois pensei que
normal ninguém é mesmo com ou sem remédio.
Falta de ar, taquicardia, nada parece ter ficado de fora
desse livro confessional.
Apesar de tratar de temas muito delicados e até certo ponto
ainda tabus, não é um livro triste. Mérito disso é da autora que não tenta se levar muito a sério.
Ela cria uma empatia com o leitor e em diversos momentos eu
me peguei olhando para dentro de mim. Quando vemos alguém fazendo isso com
tanta coragem, sentimos mais confiança em fazer também.
No prefácio do livro, Otávio Frias Filho, diretor de redação
do jornal Folha de S. Paulo e diretor editorial do Grupo Folha, escreve que é
como se a tampa da cabeça de Tati Bernardi fosse desatarraxada para que os fãs
bisbilhotassem à vontade lá dentro.
Foi exatamente assim que eu me senti: bisbilhotando. E quer
saber? Adorei descobrir uma escritora humana e corajosa. Se eu já a admirava,
agora admiro muito mais.
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