segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Árvores urbanas

Isabel Galvanese


O ser humano é muito esquisito. Arranca tudo que tem plantado no terreno para fazer uma cidade, construir uma casa , fazer uma estrada, ou uma rua. Aí, percebe que ficou difícil morar nesse cimento todo e começa a plantar alguma coisa desesperadamente. Muitas vezes completamente desavisado, planta árvores que não poderão sobreviver naquele espaço. Tem canos na terra, tem fios em cima, tem muros ao lado ou passam caminhões. Depois de alguns anos a árvore, que heroicamente está tentando crescer, vira um problemão!


Plantar uma árvore é um exercício "tridimensional de previsão do futuro". Quando você planta tem que olhar para os lados, para baixo e principalmente para o céu. Parece óbvio. Mas a grande maioria não faz isso. Basta observar as árvores plantadas. Repare. Quando você admira uma árvore, pode acreditar que ela está num lugar que tem espaço para que mostre toda a sua beleza.
Fico pensando. Será que quem plantou a fileira de Flamboyants na praia de Barequeçaba ou o corredor de Jacarandás no parque do Ibirapuera tem a noção do impacto positivo que essas plantas causam na vida das pessoas?
Sei que as palmeiras imperiais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro foram plantadas por Dom João VI em 1809, e deste primeiro exemplar saíram todas os descendentes que temos hoje no Brasil . Daí o nome "palmeira imperial". Com certeza ele não teve a sensação que temos hoje ao andar naquele corredor de palmeiras. Um caminho real! Tem plantas que fazem o lugar ficar mágico.


Vou contar uma história de família que eu não sei se é verdade mas que eu adoro! A avó do meu marido era uma artista plástica exótica, mulher avançada no seu tempo. Casou três vezes, e o terceiro casamento foi com o seu jardineiro. Na sua casa tinha muitas plantas e um viveiro produtor de mudas. Era uma casa linda, com um jardim incrível e só um quarto.- Veja a importância do jardim na vida deste casal! - A família conta que sempre que ela andava na estrada velha de Santos reclamava como era sem flores e sem cor. Um belo dia, resolveu que ia dar um jeito nisso e encheu um carro de sementes de maria-sem-vergonha. Fez o trajeto parando de tempos em tempos para semear. Anos depois, ao passar pela mesma estrada viu tantas maria-se-vergonhas floridas, que fez o caminho todo chorando.
Não é uma história bonita? Sabemos que a maria-sem-vergonha não é nativa e que a estrada de Santos é repleta delas. Essa atitude de introduzir plantas exóticas na mata nativa hoje é considerada ecologicamente errada, mas sem dúvida poeticamente correta.


Neste final de ano fomos presenteados com três árvores novas na calçada em frente ao nosso trabalho. Dois ipês e uma aroeira. Estão no lugar certo, espaço garantido ao lado, terreno sem canos, com profundidade de terra e o céu aberto sem fios de eletricidade. Agora faz parte do nosso dia-a-dia regar essas plantas, observar as suas folhinhas novas, e cuidar para que o vento não as derrubem. Precisamos de tempo para ver o resultado, no mínimo 10 anos.
Maníacos por plantas, somos todos um pouco loucos- poetas. Desconfio que essa poesia faz bem para a alma. Plantamos na dúvida do que vai dar, mesmo sabendo que não podemos ter a pretensão de prever qual será o rumo daquela árvore ou daquele plantio. Tudo está sujeito ao tempo e ao espaço. É uma abstração, um sonho que muitas vezes nem chegaremos a assistir mas que, sei lá porque, sentimos que vale a pena e quem sabe um dia pode dar uma boa sombra para alguém!. 




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