quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Divagando sobre o VERMELHO


Por Isabel Galvanese


Foto: Mark Rothko
Sempre achei que a palavra "vermelho" não combina com a cor . Tem um som fechado, quase triste e inseguro. Um sussurro. Já a cor, não precisa de nada para dizer o que é, é pura vibração, é sangue, coragem, paixão!
Fui comprar tecido vermelho na casa Esperança, uma loja que eu adoro!

_A Senhora quer vermelho, vermelho mesmo?
_ Sim, vermelhão! Vermelho vivo!

Que problema! Você não consegue falar simplesmente vermelho, precisa carregar com adjetivos e aumentativos para chegar no tom. Se a palavra fosse forte e afirmativa como a cor, não precisaríamos toda vez explicar que tonalidade exatamente é essa.
O vermelho em outras linguas, soa um pouco melhor - red, rouge ou rojo- mas ainda assim essas palavras não transmitem a energia que a cor tem.
Me contaram que Matisse um dia pintava uma paisagem com vários muros brancos, na luz solar do Marrocos. Um dos muros era muito mais branco que os outros pela luz que nele refletia. Matisse então tentava loucamente colocar mais branco, sobre esse mais um, e mais um branco, sem conseguir a luz que ele procurava. Foi então que num ataque de coragem pegou a tinta vermelha e pintou novamente aquele muro que o incomodava, transformando totalmente a pintura. Como numa mágica, o muro apareceu na tela com a mesma vibração que tinha na paisagem. Para os artistas o vermelho é atitude!
É uma cor para quem vive, tem coragem, encara. Ninguém se veste de vermelho num dia que está meio depressivo, cansado e com preguiça. É a cor da ação, da vontade de fazer, de se envolver. Pulsar como o vermelho coração!
O vermelho da pimenta, a vibração do tiê sangue e as flores para os beija flores, tem a cor exata, exagerada, que não passa sem ser notada. Solar!
Veja as bandeiras dos países. Tirando a do Brasil que está entre , o ouro, a mata e o céu, totalmente confortável com a sua riqueza. A grande maioria tem um vermelho no seu desenho mostrando sua decisão. Acho que a mais extrema é a do Japão, minimalista dizendo somos pequenos, econômicos, certeiros e muito corajosos! Energia Zen, clara, condensada e bem aproveitada.


Gosto até que a palavra vermelho comece com a letra V. É uma letra num ângulo que se expande, que joga a energia para o ar. Mas o restante deveria ser repensado!
O vermelho não é espiritual como o azul ou o lilás, nem tão pouco da terra como os laranjas e amarelos, é uma cor de quem está entre isso. Com os pés na terra e a cabeça no ar. Aceitou viver o momento e lutar. É transformação e não acomodação. É tentar, errar e crescer.
Se eu tivesse que mudar seu nome, manteria o V e chamaria de "VIDA". Nada combina mais com essa cor entusiasmada! Cor de quem não envelhece na cabeça, não desistiu, quer realizar.
Assim, da próxima vez que eu fosse na casa Esperança diria: _Me vê 2m de "VIDA"! Porque hoje vou fazer um vestido rodado e sair por aí vermelhando, ou melhor vivendo!



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