Por Giobert M. Gonçalves
Encontrei uma amiga outro dia e conversávamos sobre as
nossas relações amorosas, lá pelas tantas ela diz que o marido não ajudava em
casa. Quando alguém diz algo nesse tom comigo sai como um berro: como ele não
ajuda! Será que ele precisa ajudar a mulher com as coisas na casa onde ele
mora? Que falta de foco é essa? Lá ele não ajuda mesmo porque, na verdade, é
obrigação dele. E depois as mulheres lutam pela igualdade!
Mas as velhas
crenças estão tão entranhadas na cultura, nos comportamentos e na consciência
que a gente nem se dá conta. O correto seria ela dizer com consciência: ele não
cumpre com a parte dele em casa!
Depois disso, no ônibus, me coloquei a ouvir a conversa de
duas mulheres. Uma dizia sobre o comportamento de certo sujeito, parece que no
trabalho, e soltou a pérola: não existem mais cavalheiros atualmente! E sei que
ela estava se referindo ao contexto cavalheiro e dama. Oras, se me colocar no
lugar da dama, minha representação interna vai mostrar uma mulher frágil,
delicada e que precisa de cuidados ou vantagens. É isso uma mulher? É isso que
se quer? Acho que não quando falamos de igualdade. Então, talvez o comentário
correto fosse apenas: não existem mais pessoas educadas atualmente!
Mais um pouco e vi um post gracinha no face de um pai que
ficou tomando conta do filho. O pai estava com o bebê em um porta bebês (não
sei se o nome é esse – são aqueles apetrechos de carregar o bebê como uma
mochila, só que na parte da frente) e, ao som de Michael Jackson em Billy Jean,
fazia do bebê um marionete imitando os passos da dança. Claro que o pai estava
se divertindo e o bebê também! Mas o texto do post era em tom de “um pai não
sabe cuidar de uma criança”. E novamente grita a crença e o machismo reverso. O
certo não seria rir junto e se divertir também? Ou será que as meninas
brincaram tanto de bonecas que quando adultas elas se esqueceram da brincadeira
e começaram a se levar muito a sério? Pai, você estava ótimo!
Aí ouço outra conversa, no ônibus é claro, de duas garotas
falando de uma terceira na noite anterior:
- Você viu a vagaba? Ficou se oferecendo pro cara.
- Se eu fosse você teria zoado ela. Você estava a fim dele
também e eu não tinha deixado.
- Ela é bagaceira mesmo, toda oferecida.
Fala sério! É isso mesmo? Duas mulheres criticando uma
mulher do próprio comportamento de emancipação feminina de ser dona da sua
própria vontade? Ou de agir de maneira livre e fazer o que estava com vontade?
Eu poderia dizer: e se fosse um homem? Sinto muito, mas não vou dizer por que
eu estaria sendo machista usando a desculpa de um discurso incoerente. Dizer
que isso é uma coisa que o homem pode fazer e uma mulher não pode é confirmar
papéis.
Poderia ficar lembrando diversas situações complexas e que
mostram o machismo, e dizendo melhor, o preconceito generalizado de crenças
antigas que nos acompanham por conta da nossa cultura, nossos comportamentos e
da nossa consciência, mas não preciso fazer isso. Basta lembrar apenas uma
coisa: a gente morre! E com a gente morre aos poucos, deixando rastros de tempo
que vão se apagando, nossas crenças e preconceitos. Ainda bem que a gente
morre!
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