Nesta semana, eu visitei a Exposição "Maria - Mãe de Todos, do artista plástico Carlo Cury, que acontece até o dia 07 de abril, no Senac, de São José dos Campos, com a curadoria da historiadora Rosangela da Ressurreição.
Eu já conhecia parte do acervo que foi exposto na Igreja São
Gonçalo, em São Sebastião, mas essa mostra conta com imagens novas.
Uma das coisas que chama a atenção nas imagens é a
delicadeza e apesar de serem feitas de terracota a sensação é
de que são leves.
As imagens foram feitas com a técnica de modelagem e depois foram
para o forno por duas vezes. Na primeira vez elas foram ao forno a lenha, o que
trouxe cor as peças, mas não trouxe uma dureza total.
Depois as peças foram para o forno elétrico, onde ficaram num
calor de aproximadamente 1240 graus.
Além de endurecer, o forno elétrico serviu para reforçar o tom onde a
chama do fogo passou e dá uma cor pinhão as imagens.
Algumas peças foram feitas com outras técnicas. O artista aplicou engobe para colorir os mantos ou esmalte transparente na terracota para
dar um brilho e criar o tom amadeirado.
Durante a visita a exposição, eu puxei o artista de lado
para obter mais informações sobre as imagens e perguntei se ele era uma pessoa religiosa...
O Carlo me disse que hoje não segue nenhuma religião. “Eu não fico ajoelhado diante das imagens, mas
eu penso nas pessoas que serão tocadas por elas”, disse.
Ele me contou que, quando era menino, o seu pai o levava
para conhecer as fazendas onde sempre tinha uma igreja e ele ficava alucinado
com as obras, os santos e ainda se lembra de que chorou várias vezes porque queria
leva-los para casa.
“Apesar de não frequentar mais a igreja católica, adoro as
procissões, eu acho um ato de fé maravilhoso. Quando comecei a fazer cerâmica, com
o mestre Ben- Hur, as primeiras imagens que eu fiz foram duas imagens de São
Francisco com 1.20 de altura cada uma. Essa coisa estética me agrada muito e
também poder entender a vida daquela pessoa. Quem foi aquela pessoa?”.
Por causa disso, as imagens feitas pelo Carlo só começam a
ser feitas após um longo trabalho de pesquisa que vai além do padrão estético.
“Depois que eu faço esse estudo, algumas vezes me dou à liberdade para criar e reinterpretar a imagem. A Nossa Senhora Desatadora dos Nós, por exemplo, ao invés de estar rodeada por anjos, como aparece normalmente, tem apenas um anjinho amarradinho em um dos nós. Gosto desta liberdade expressiva nas peças”, explica.
Eu perguntei se já aconteceu de algum devoto questionar que a peça estava diferente.
O Carlo afirmou que isso nunca aconteceu, mas quando tem
encomenda gosta sempre de conversar com a pessoa antes para saber qual é a sua
ligação com o santo, onde a peça vai ficar.
“Pra começar essas peças, eu preciso estar tranquilo. Cada
peça sacra é um gesto de carinho para uma pessoa.”, disse.
O Carlo me contou que produz as peças com rapidez. A Nossa Senhora,
por exemplo, ele fez em um dia e meio.
“Eu sou focado no trabalho. Quando faço utilitário, eu
brinco, canto e relaxo mais. Mas, quando eu faço uma peça de arte sacra não é
assim (fica emocionado). Quando estou modelando a imagem, eu penso no
sentimento que ela vai despertar”, explica.
No final da nossa conversa, o Carlo me contou que gosta de
fazer tudo com o coração porque acha que isso atrai coisas boas. “Tudo o que é
feito com amor, frutifica”.
Nisso, nós dois concordamos.
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