Donos de uma cultura plural, adquirida da convivência com os portugueses e os índios, são lembrados pela coragem que demonstram no mar e a perseverança e a fé com que trabalham a terra.
Restam poucos caiçaras que ainda preservam os antigos costumes, tradições e manifestações artísticas e culturais.
A maioria vendeu sua terra em troca de objetos sem valor ou promessa de uma vida mais confortável na cidade.
O desenvolvimento urbano, a valorização dos terrenos próximos ao mar e os altos impostos cobrados pelo governo expulsaram os caiçaras do seu território natural.
Embora ainda esteja viva na memória dos seus descendentes e conste em alguns livros, é importante que a história do povo caiçara seja contada para não ser esquecida pela nova geração.
Essa sem dúvida é a maior contribuição da Exposição do Projeto Origens Fase III - Caiçara, que estará no Macc (Museu de Arte e Cultura de Caraguatatuba) até o dia 10 de junho.
A mostra, que foi idealizada pelos artistas dos Grupos Ubuntu e Oca, de Caraguá e Ubatuba, respectivamente, está dividida em três salas.
Na primeira sala estão as peças que nos rementem a religiosidade e as festas celebradas pelos caiçaras.
Cada artista lançou um olhar muito particular sobre esses temas, mas juntas as peças criaram um conjunto harmônico e diversificado.
Podemos ver a imagem do estandarte de reisado e a máscara de palhaço de Folia de Reis, criados pela ceramista Lu Chiata.
A imagem de São Pedro, santo protetor dos pescadores, do ceramista Carlo Cury, que está rodeada por gaivotas e próxima a procissão de barcos formada pelo conjunto de quadros na parede.
Ainda chama a atenção a imagem de Iemanjá, em tonalidade azul do mar, com sua coroa dourada.
Na segunda sala, o tema é livre e os artistas deram asas à imaginação para retratarem o dia a dia do povo caiçara e seu respeito pelo mar e os animais dessa terra.
Assim entramos no universo de uma gente simples, colorida que conseguia tirar poesia mesmo diante das dificuldades da vida.
Brincava com os vagalumes nas noites escuras...
E se divertia ao observar as formas engraçadas do baiacu.
Mas, esta sala também mostra que, apesar de toda a sua força, o caiçara não conseguiu conter o desenvolvimento urbano e a chegada dos imigrantes e turistas às suas terras.
Esse movimento está retratado de forma muito inspirada na peça "Torre de Babel".
Na última sala, as peças relatam as lendas contadas pelo povo caiçara e que passaram de geração a geração.
Para quem quiser conhecer as lendas que inspiraram essas peças, há um espaço com livros reservado para leitura.
A lenda da cobra grande.
A lenda da baleia que esteve na praia do Massaguaçú, por 2 ou 3 meses, antes de seguir para São Sebastião, onde foi morta e acabou dando nome a uma praia.
A lenda da porca com os seus filhotes que apareciam no bairro Porto Novo e depois desapareciam de forma misteriosa.
O saci.
É uma exposição muito sensível, criada com bom gosto e originalidade.
Tudo parece ter sido pensando para nos fazer lembrar não apenas dos antigos caiçaras, mas do quanto somos privilegiados por viver em uma terra linda e com muitas histórias.
Parabéns aos artistas e todos que participaram deste projeto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário