quarta-feira, 10 de maio de 2017

Edinha: A vida é uma aquarela sem fim


Quando entrei na casa da aquarelista Edna Camargo Mattos, a quem eu chamo carinhosamente por Edinha, a primeira coisa que eu vi foi o seu ateliê, um lugar iluminado, onde reinam as tintas, os pincéis, diversos livros de estudos e muitos quadros.
Eu demorei um tempo só observando ao meu redor, não queria perder nenhum detalhe e eram muitos.
- Eu adorei esse quadro!
- Ah, você gostou? Ele ganhou um prêmio e...


Edinha é uma pintora muito admirada e respeitada no meio artístico e têm muitos fãs, como eu.  
Numa sala próxima ao seu ateliê ficam guardados os prêmios que conquistou ao longo da sua carreira e as matérias publicadas na imprensa citando fatos importantes da sua trajetória.
Em meio a tudo isso, um quadro chamou a minha atenção. Uma foto em preto e branco, que depois eu fui saber que era dos seus pais.


O pai de Edinha, seu Wilson Augusto, foi o segundo violinista da orquestra de Campinas, mas apesar de adorar música só aprendeu a tocar esse instrumento por exigência de uma tia.
Assim que pode, ele começou a tocar piano e quis ensinar a filha, mas a menina Edna se distraía fácil e ficava olhando pela janela para observar a jabuticabeira.
Embora, Edinha não tivesse talento para a música, ela saiu com a mesma veia artística do pai e traçou o seu próprio caminho.


O amor pela pintura com tintas aquarelas começou muito cedo.


Edinha contraiu tuberculose quando era criança e passou por muitos tratamentos de saúde. Numa dessas recaídas, a artista Regina Kerr Funiar foi até a sua casa para ensiná-la a pintar.
A pintura em aquarela tornou os dias da menina muito mais felizes. Foi um encontro perfeito. Ela podia pintar deitada na cama, não precisava se mexer muito e a tinta não tinha cheiro.
Edinha nasceu na capital paulista e, antes de chegar a São Sebastião, onde vive hoje.
Junto com o marido Luís Carlos, ela foi muito ativa durante o período da ditadura militar e ambos pagaram um preço alto por isso, sofrendo muitas perseguições no ambiente de trabalho.


“Idealista e ativista neste país paga com o próprio sangue!”, lembra.
Do casamento de Edinha e Luís Carlos nasceram os filhos Carla – que é bailarina - e Tatá, um rapaz muito inteligente, que não se adaptou a esse mundo e partiu cedo.
O que me impressiona no trabalho de Edinha é a vivacidade das cores e ao mesmo tempo a forma suave como elas se encontram. As cores não se chocam, elas se enlaçam.  
Apesar de ter tido uma vida atribulada por tantos desafios, os seus quadros são uma espécie de refúgio, que me inspira e me faz sentir em paz. 
As suas pinturas mostram lindas imagens da Mata Atlântica e de lugares históricos de São Sebastião, principalmente do bairro São Francisco, que a acolheu.



A imagem do Convento Nossa Senhora do Amparo pintada por Edinha é a mais bonitas que eu já vi. E olha que eu já vi muitas.
Aliás, a Edinha é devota de São Francisco e coleciona diversas imagens do santo.
Há algum tempo, a artista vem enfrentando problemas de saúde e superado, com valentia, cada um deles.
Durante o tratamento, ela passou a pintar também imagens dos arquétipos femininos, que aparecem em seus sonhos, cercados por mistérios e símbolos.
Os arquétipos representam os pensamentos, sentimentos e instintos e lhe deram forças para continuar em frente nos momentos difíceis.  


Enquanto eu estive na casa dela, com as minhas amigas Renata e Ana Maria, percebi que os quadros da artista contam a sua história de vida.
Eu também senti a força do seu talento e o quanto isso inspirou a vida das pessoas que vivem ao redor dela.
Enquanto ela me mostrava a sua casa, eu vi expostos os quadros do marido, da filha e até do seu pai.
Sim, até seu Wilson começou a pintar. Ele fez um quadro pequeno de natureza morta, que a Edinha me mostrou com muito carinho.


Essa não foi uma visita comum a um ateliê, foi como abrir uma janela para o coração de uma artista muito sensível, que viveu e ainda vive intensamente suas dores e seus amores.
Edinha, minha querida, obrigada por ter aberto um espaço para mim dentro do seu coração. Você também está no meu coração em um lugar muito especial!
 
 



2 comentários:

  1. Minha amiga amiga Daniela Outi. Escritora, jornalista e amada amiga GRATIDÃO por tudo. Continue escrevendo. Bjs Edinha

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  2. Daniela linda homenagem a Dona Edna. Como sempre a chamei. Morou no Porto Grande quando chegou a São Sebastião. No "Rancho sobre as Ondas" onde hoje funciona o Hotel Guarda Mor. Seus pequenos filhos sempre cuidados com muito carinho. Trabalhei com seu filho Tatá. Eu na Administração do Porto. Ele na Portobrás. Era sempre uma quando ia até a APSS. Dona Edna ficará para sempre na memória Caiçara.

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