sexta-feira, 19 de maio de 2017

O que é que a política é?


Por Giobert M. Gonçalves


Nesse dia deveria escrever sobre política? O país está em polvorosa com o que acontece, mas só alguns percebem que isso acontece desde a descoberta. Talvez até antes. Será que nossos índios também eram corruptos? A minha curiosidade é descobrir de quem foi modelada essa corrupção que faz parte da nossa cultura. Ela está tão intrinsicamente enraizada dentro de nós que nem percebemos. Eu tenho um exemplo da minha própria corrupção.
Há alguns anos eu aproveitei por conta da minha surdez, utilizar um auxílio feito para pessoas portadoras de necessidades especiais (ô coisinha feia de falar – ainda bem que meu pai deu um comando mental de que eu não tinha problemas, apenas era surdo). Bom, eu teria direito pela minha deficiência auditiva severa a uma carteirinha que permitia pegar o ônibus sem pagar. Fiz toda a documentação necessária e obtive a licença. Naquela época eu estava com dificuldades financeiras, recomeçando minha vida profissional e muito me ajudaria esse auxílio. No ano seguinte renovei a carteira e minha situação financeira melhorou um pouco. No outro ano renovei novamente e minha situação financeira melhorou ainda mais. No terceiro ano solicitaram mais documentos além daqueles que normalmente eram exigidos e achei um absurdo eles quererem dificultar tanto um benefício por direito! Um dos novos documentos era uma declaração do INSS de que eu não era empregado em nenhuma empresa. Eu já trabalhava como autônomo, como coach, que é o que faço até hoje.
Nesse ano, também viajei pela primeira vez para fora do país. Foi uma conquista muito significativa relacionada ao meu próprio trabalho, afinal, o que eu faço se não ajudar as pessoas a conquistarem objetivos superando obstáculos. Nunca tinha viajado para fora porque não acreditava que isso era possível. E um dos motivos é que eu não falava inglês. Como iria me comunicar lá fora? Crença que um amigo gentilmente desafiou: mas você não é surdo? Para quem não entender, além da minha surdez ser severa, eu só comecei usar aparelho auditivo com trinta anos. Muitos podem se surpreender. Como? Comando mental do meu pai; quando o cérebro recebe uma ordem ele obedece como uma gueixa. E o comando era de que eu não tinha nenhum problema, apenas era surdo e ia tocando a vida. Só entendi verdadeiramente o quanto era surdo quando coloquei o aparelho pela primeira vez e descobri que criança tinha som, que gato miava e porque o porteiro do primeiro prédio que eu morei implorava para eu abaixar o som. Realmente eu era muuuuuito surdo. Bom, o outro motivo da crença sobre a minha falta de capacidade de viajar era grana, claro! Acho que dois terços do planeta têm crenças limitantes em relação a dinheiro, e por isso, não tem dinheiro. O outro terço se divide em três novamente: dois que não tem nem dinheiro, ainda estão na base do escambo e um que concentra a maior parte da riqueza. Mas isso é outro assunto...
No quarto ano, fui novamente ao INSS buscar a declaração de desemprego e dar andamento ao processo da carteirinha. Mas havia algo que incomodava e eu não sabia o que era até cair o tijolo na cabeça: essa carteirinha era para quem necessitava e eu, não mais necessitava... A minha sensação foi a de quem estava roubando a oportunidade de outra pessoa. Eu estava sendo corrupto! O modelo estava atuando.
Naquele instante resolvi quebrar a carteirinha e acho que foi um momento de muito orgulho para mim. Poderia até ter quebrado a carteirinha ao som do Hino Nacional, e não estou sendo dramático! Eu me senti patriótico! Além disso, ainda tive outra sensação muito forte: a de que eu era próspero. Aquela carteirinha representava no momento em que eu já não necessitava mais desse auxílio o atestado da minha miséria. A pobreza na maior parte das vezes não é material, é da alma. E eu deixo a pergunta: Afinal, o que é que a política é?









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