Por Isabel Galvanese
“Mestre não é aquele que sempre ensina, mas aquele que de repente aprende” Guimarães Rosa
Essa frase do Guimarães, para mim, é a que mais se parece com o Mestre paisagista Burle Marx. Sou admiradora do seu trabalho, mas principalmente do seu jeito de viver, olhando ao seu redor e humilde para aprender.
Burle Marx passou sua infância no Recife, estudou artes na
Alemanha, mudou-se para o Rio de Janeiro onde
conviveu com grandes arquitetos e artistas como Oscar Niemeyer, Lúcio
Costa e Portinari.
Veio das artes e por causa da sua paixão por plantas,
herdada da sua mãe, transformou sua arte na arte da paisagem.
Estudei biologia na USP e como todo aluno da minha geração
e de outras mais, tive aula com a Botânica Nanusa. Fazia parte do currículo uma
viagem para a Serra do Cipó, onde andávamos muito, víamos muitas plantas e
conversávamos muito!
Nanusa, era super amiga do Burle Marx e nos contava as
mais incríveis histórias. Dizia que como paisagista queria muito conhecer as
plantas brasileiras. Ele sempre se
cercava de pesquisadores e com eles ia à campo para descobrir e incorporar
novas espécies para os jardins brasileiros.
Muitas espécies foram descobertas nessas viagens e muitas
delas levam o nome de Burle Marx.
Nanusa contou que Burle Marx pediu uma vez que ela desse uma aula para sua equipe
de jardineiros. Ela topou e ficou
surpresa ao ver que o primeiro da fila
era ele. Contava que quando pegou uma flor, abriu e mostrou com lupa os óvulos
no ovário, e disse que o pólen cai no estigma e fecunda, ele chorou. Chorou de
emoção. Dá para perceber que sua relação com as plantas era muito maior do que
abastecer seus projetos, era uma paixão, respeito e inspiração. Nem é preciso dizer que ele se tornou
um importante ambientalista na defesa das nossas reservas naturais.
Burle Marx assina
importantes jardins brasileiros em
várias cidades mas principalmente em Brasília e no Rio de Janeiro. Um dos
ícones do seu trabalhos é o paisagismo do aterro do Flamengo e a reforma
do calçadão de Copacabana.
É quase ridículo pensar que com a nossa incrível variedade
de plantas, antes de Burle Marx, nossos jardins eram cópias dos jardins
europeus, com roseriras, gladíolos, magnólias etc…. Para ele o paisagista, ao
projetar, deveria observar a natureza ao
redor e trazer essas plantas para o jardim. Por isso fazia viagens às reservas naturais
observando o potencial ornamental das
espécies trazendo sementes e mudas para multiplicar criando um acervo e
uma grande coleção.
Sua observação, sua parceria com os botânicos, suas viagens
à campo e seu emprededorismo na criação
de viveiros, foram muito importantes
para que surgisse o verdadeiro paisagismo brasileiro. Mesmo ainda hoje muitos
jardins são com espécies exóticas, mas já é possível encontrar muitas plantas
nativas em viveiros, basta pesquisar.
Em paralelo ao paisagismo, Burle Marx também desenvolveu uma incrível obra nas
artes plásticas. Pintava lindas telas como seus jardins. Trabalhos orgânicos,
com curvas bem delimitadas e um colorido muito especial. Dá para notar que para
ele desenhar com tinta ou com plantas era a mesma coisa.
Burle Marx foi, sem dúvida, um homem multi-facetado que sempre esteve disposto a aprender e que com esse aprendizado nos ensina a abrir novos horizontes e novas maneiras de olhar um jardim, não só como espaço de contemplação mas também um lugar necessário ao esporte, ao lazer, ou a simplesmente respirar nas nossas cidades que cada dia estão mais sufocantes! Um verdadeiro Mestre!
Burle Marx foi, sem dúvida, um homem multi-facetado que sempre esteve disposto a aprender e que com esse aprendizado nos ensina a abrir novos horizontes e novas maneiras de olhar um jardim, não só como espaço de contemplação mas também um lugar necessário ao esporte, ao lazer, ou a simplesmente respirar nas nossas cidades que cada dia estão mais sufocantes! Um verdadeiro Mestre!
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