sexta-feira, 11 de maio de 2018

O lado ensolarado

Por Isabel Galvanese 


Uma das coisas mais gostosas de fazer é ver uma exposição em São Paulo dentre as inúmeras opções que a cidade oferece. Foi num sábado desses que fui no último dia da exposição do Basquiat no Centro Cultural do Banco do Brasil.
E tudo começou assim, num dia de sol... 
A porta se abriu. Ansiosos entramos no vagão do metrô. Logo atrás duas senhoras cegas- uma quase, a outra totalmente- estão acompanhadas de um jovem que se despede e sai.

Olhamos como quem diz:  

-Vai deixá-las sozinhas ?

O trem parte.

Silêncio.

Um homem oferece seu lugar. 

- Vamos sair daqui a pouco. Obrigada.

Nesse momento formou-se uma rede de cumplicidade entre todos no vagão. Estávamos ligados à elas. Observávamos seus óculos, suas bengalas e se tinham sapatos seguros. Percebíamos os movimentos de suas cabeças a procura do som. Um movimento de cego.

- Próxima estação, São Bento, desembarque pelo lado esquerdo do trem.

A porta se abriu, ninguém ousou movimento antes delas. Cuidávamos todos sem fazer nada. Saíram com facilidade, sabiam o caminho.

Na escada rolante, ainda as vi corajosas em meio a multidão.

E nós, desconhecidos, nos dispersamos para nunca mais nos ver.

Do lado de fora, eu , que costumo andar pela sombra, decidi como elas pelo lado ensolarado da calçada.


A exposição do Basquiat estava muito bacana, um homem de coragem que veio para quebrar regras. Valeu a pena. Mas nada se comprara com a sensação que eu tive no vagão do metrô e na calçada ensolarada. O que era para ser só o caminho se tornou o acontecimento do dia. Luz e sombra.


Playlist : On the sunny side of the street 
Billy Holiday

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