Essa semana eu recebi a notícia de que uma amiga muito querida está grávida pela quarta vez e fiquei muito feliz.
Hoje é difícil encontrar um casal disposto a construir uma
família com mais de dois filhos, o que no passado era perfeitamente comum.
O meu marido, por exemplo, tem uma família grande, que se
reúne uma vez a cada dois anos, para colocar os assuntos em dia, apresentar os
novos integrantes e reforçar os laços de afeto.
O fato de muitos mal se conhecerem, não lembrarem seus nomes
ou o grau de parentesco que os unem é irrelevante. Eles sabem pertencer aquele
grupo, abrem seus corações e fazem tudo dar certo.
Sempre vou embora desses encontros me sentindo grata por
pertencer a um grupo familiar generoso e disposto a amar.
Por outro lado, eu não conheço toda a minha família e não
estou falando apenas dos primos distantes.
O irmão da minha avó, Zilmar, eu só conheço por nome. Fiquei
sabendo que ele faleceu, portanto, agora só depois.
Ele casou e teve filhos, será que sabem que nós existimos
aqui na pacata cidade de São Sebastião? Acho que sim.
Quando eu era mais jovem, esse é o tipo de assunto que não
me interessava, tanto que quando casei simplesmente tirei o sobrenome Kosel,
que herdei do meu avô, pai da minha mãe, com quem convivi muito pouco, por ser
difícil de soletrar.
Passado muitos anos, um dia eu estava em Praga, capital da
República Tcheka e vejo em um outdoor gigante, de propaganda de cerveja, o meu
sobrenome Kozel, escrito com k.
Será que pertence a minha família?
Fiquei eufórica, comprei a tal cerveja, pesquisei na
internet a origem da palavra e, de repente, queria saber o máximo possível
sobre todos os Kosels ou Kozels que existiram sobre a terra.
De repente eu percebi que o meu sobrenome é qualquer coisa
como uma corrente familiar, que tem unido pessoas há muitos e muitos anos e que
eu quebrei isso, simplesmente, por preguiça.
No rótulo da cerveja consta o ano de 1874, ou seja, pelo menos 100 anos antes do meu nascimento já existia o sobrenome. Quantos Kozels ou Kosels terão existido antes de mim?
No rótulo da cerveja consta o ano de 1874, ou seja, pelo menos 100 anos antes do meu nascimento já existia o sobrenome. Quantos Kozels ou Kosels terão existido antes de mim?
Precisei ir tão longe para dar valor a algo que eu tinha. Triste
isso, não é?
Pois bem, o bom é que a corrente familiar se refaz.
Não importa sobrenome, grau de parentesco, se convivemos ou
mal nos conhecemos, o sentimento de pertencer a uma família não é rompido sem
que se queira grandemente.
No dia em que recebi a notícia sobre a gravidez da minha
amiga, nos falamos ao telefone.
Conversamos sobre o quanto esse momento era incrível, mas também
sobre alguns planos que precisariam ser adiados em função da chegada do bebê,
como o de abrir um novo negócio e fazer um curso de artes em São Paulo.
Quando nos falamos eu estava no aeroporto, voltando para
casa, após passar uma semana com o meu filho.
Estava com o coração apertado de saudades futuras,
imaginando como seriam os meus próximos dias em uma casa cheia de quartos
vazios e silêncios quebrados apenas pelo som da televisão, onde sobram
chocolates, ninguém mais bebe leite e tudo permanece arrumado, quase desumano...
Com tantos pensamentos, acabei por lembra-la que em troca de
seus planos adiados ela dificilmente terá uma casa vazia ou dúvidas sobre se
ainda é necessária para alguém.
Terá outras coisas com que se preocupar, mas diante do amor
que irá receber todas me parecem hoje irrelevantes.
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