Olá, escrevo para dar uma notícia triste. O Zibis morreu.
Foi rápido, a médica disse que está doendo mais em mim
porque ele não sofreu, morreu dormindo, o que fez todo sentido pra mim se
tratando do Zibis.
Agora ficamos nós dois, sem filhos e sem o nosso gatinho. Tentamos
enganar a solidão, mas não teve jeito.
A missão “ficar um com o outro até que a morte nos separe”
está sendo seguida ao pé da letra nesta casa. Um com o outro, sem filhos e sem
gato.
Que seja, vamos ver aonde isso vai nos levar se será de
volta a Paris, direto ao cartório ou seguiremos até o dia que a morte chegar, credo acho que estou meio trágica hoje.
Eu tenho ouvido alguns miados e ainda demoro a perceber que
não é o Zibis, mas sim os gatos dos vizinhos. Parece triste, né? E é mesmo.
Era um gatinho de personalidade forte, a família insistia
que sofria de bipolaridade, mas eu nunca achei que fosse isso.
Admirava o seu jeito gato de ser, a sua independência e falta
de paciência com as loucuras de quem achava que podia trata-lo como bicho de estimação
e ficar por isso mesmo.
Ele era muito vivo, fazia apenas o que queria e não
demonstrava carência, a não ser que fosse ganhar alguma coisa com isso.
Estranho que esse temperamento distante nos transformou em
adultos carentes do seu amor. Passamos a trata-lo tão bem..., até aceitamos a
dividir o espaço da nossa cama.
Nós não conseguíamos resistir ao Zibis.
E se tratando de nós, que nunca tivemos bichos e tínhamos
verdadeiro pavor de gato, foi uma grande mudança.
Ele morreu de repente porque eu não percebi os sinais.
Há alguns dias, o Zibis estava mais quieto, trocava a rua
para ficar deitado ao sol e sempre procurava o aconchego dos meus braços.
Eu cheguei a pensar que ele tinha finalmente mudado, se
tornado mais caseiro e passado a nos ver como sua família.
Enquanto pensava que ele estava se tornando o gato dos meus
sonhos, ele só estava morrendo...
Eu só via o que eu queria ver. Fui egoísta. Deveria ter
imaginado que gatos orgulhosos como o Zibis não mudam nunca.
Um dia antes da morte do Zibis, eu estava consolando uma
amiga que perdeu o namorado, vítima de acidente de carro.
Eu dizia a ela que um dia todos vão se reencontrar, a vida
na terra é uma viagem de aprendizado e só voltamos para nossa verdadeira casa depois
da morte. Sofre quem fica.
Quem diria que precisaria repetir isso para mim no dia
seguinte. Ainda me surpreende como tudo pode mudar tão rápido.
Vou confidenciar algo que não tive coragem no início do
texto. Espero que não ria.
Quando ouço os miados de gato (como contei acima) gosto de imaginar
que é o Zibis dizendo que está bem.
No fundo, eu sei que o Zibis, o verdadeiro, aquele que
conheci com saúde, não perderia tempo com isso.
Mas, se me enganei com ele até aqui, pra que mudar agora?
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