domingo, 16 de setembro de 2018

Quando o último filho sai de casa


É uma sensação que ainda estou vivenciando, por isso, confusa. Mas, de uma coisa eu sei, não estou passando por isso sozinha.
Cada uma, do seu jeito, mães de todo mundo enfrentam essa realidade.
Abrimos os braços e deixamos que os filhos saiam para suas vidas, mesmo que levem o pedaço que restava dos nossos corações.
Ah! Que exagero. Que seja, e daí, mãe é tudo exagerada. 

Mas, a verdade é que o fato do meu coração ainda estar batendo tem sido um mistério pra mim.
Antes dele partir, eu queria que o fizesse. Era minha consciência dizendo que quanto mais tempo permanecêssemos juntos, mais difícil seria a separação.
E que, talvez, mesmo sendo sua mãe, eu não fosse a melhor companhia, impedindo- o de sofrer, perder e superar, sentimentos que transformam todo garoto em um homem.    
Já deu tempo de analisar o assunto, com razão e emoção.
A razão diz que eu e ele fizemos tudo certo, a emoção me faz sentar na cama dele a noite, olhar para o quarto vazio e imaginar se ele está se alimentando direito (tão magrinho!) ou se está bem agasalhado, quem sabe faltou explicar que...
A emoção também me faz sentir que a casa está grande demais, cheia de coisas bonitas e inúteis.
Pra ser sincera com você, como devo ser já que cheguei até aqui, a casa me faz sentir como se estivesse em um museu.
Fico me questionando se preciso de tudo isso, tantos quadros, vasos, xícaras, bibelôs..., se somos agora em um grupo reduzido a dois.
A emoção também faz olhar para mim, o meu relacionamento comigo e com o meu marido. Não que isso tenha ficado em segundo plano quando ele estava aqui.
Mas, agora sem ele, eu tenho todo o tempo para olhar para mim.
E quando cansar disso, eu sei que vou visita-lo e descobrir que distante, nos transformamos e nada será igual.
Parece um trecho de música pra lá de triste e saudosista, mas a emoção me diz que isso será bom pra ele e, assim, também será pra mim.
Preciso que ele consiga sobreviver e viver sem a presença da mãe e não posso fazer isso só com palavras, preciso ser exemplo.  O fato da mãe ser eu, complica tudo, mas é um detalhe que cabe a mim superar. 
Porque ele vai viver por mais tempo e, quando um dia se sentir sozinho sem que eu possa confortá-lo, quero que veja isso como um sinal de liberdade e não de abandono.
Não quero que ele sofra ou se sinta perdido, como é normal que aconteça quando perdemos alguém para quem corremos quando o tempo fecha.
Esse o legado que eu quero lhe deixar: a liberdade e a capacidade de escolher os seus caminhos, com a certeza de que será sempre amado por mim, mesmo à distância, onde a gente estiver, para todo sempre.



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