segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O dia que o céu quis se mudar



Nos últimos dias, a chuva não tem dado trégua, eu tenho andado apressada pelas ruas e me escondendo do céu.
Mas, hoje, por alguns minutos, eu o vi. Ele estava vestido de branco.
Pensei que o branco era tudo que tinha para ver, até que percebi três passarinhos voando entre algumas árvores.

Eu ouvi os seus cantos.
Talvez estivessem combinando de se encontrar mais tarde em algum lugar quentinho ou conversassem com o céu e questionassem qual o motivo de tantas lágrimas.  
Não compreendo a linguagem do céu e acho que os pássaros também não.
Mas, eu os admirei naquela hora por não terem se acovardado em seus ninhos esperando a chuva passar.
Eu queria ter essa liberdade e coragem para ignorar o mau tempo ao meu redor, voar e cantar uma canção de amor e esperança.
Mas, tudo que consigo, hoje, é pensar em silêncio e escrever esse texto um tanto confuso, que reflete o meu desamparo diante das circunstâncias da vida.   
Se eu voasse na chuva e cantasse para o céu parar de chorar, será que conseguiria mudar o estado das coisas?
Quem é de chuva, chove. Quem é de voar, voa.
Quanta força é necessária para impedir que a vida aconteça se o que faz a vida ser o que é são os acontecimentos?
Hoje, me parece que não existe resistência quanto ao destino.
A chuva cai. O pássaro voa. Eu olho para o céu. Nós três fazemos aquilo que sabemos fazer.
Se eu chovesse como chove o céu, já teria morrido seca de tanto chorar.
Se eu voasse na chuva como os pássaros, eu estaria com frio n’alma e meu canto de amor seria confundido com um pedido de socorro.  
Eu olhei para o céu e não encontrei o azul, que acalma o meu espírito, ou as nuvens brancas e fofas.
O céu está cinza. Sem graça.
Se pudesse, eu acho que o céu teria se mudado hoje para outro lugar, onde ninguém ficasse olhando pra ele à espera de uma explicação sobre o sentido das coisas serem como são.
Se pudesse, talvez ele dissesse:
- Eu não posso fazer nada por vocês. Não tenho controle sobre a vida, vocês ainda não perceberam? Voem, Não esperem nada de mim. Façam como os pássaros! Cantem! Não esperem a chuva passar...
Mesmo assim, apesar da vontade de não querer ser céu, ele é.
Apesar do que possa aparentar, ainda olhamos para ele e pedimos, rezamos e imploramos.
– Céu, me ajude a entender o mundo em que eu vivo!
Bobagem pedir isso, eu sei. Você também devia saber.
Se nem o céu imenso, com seu olhar sobre todas as coisas, pode escapar da sua realidade, o que dizer de nós?



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