Nos últimos dias, a chuva não tem dado trégua, eu tenho andado
apressada pelas ruas e me escondendo do céu.
Mas, hoje, por alguns minutos, eu o vi. Ele estava vestido
de branco.
Pensei que o branco era tudo que tinha para ver, até que
percebi três passarinhos voando entre algumas árvores.
Eu ouvi os seus cantos.
Talvez estivessem combinando de se encontrar mais tarde em algum
lugar quentinho ou conversassem com o céu e questionassem qual o motivo de
tantas lágrimas.
Não compreendo a linguagem do céu e acho que os pássaros
também não.
Mas, eu os admirei naquela hora por não terem se acovardado
em seus ninhos esperando a chuva passar.
Eu queria ter essa liberdade e coragem para ignorar o mau
tempo ao meu redor, voar e cantar uma canção de amor e esperança.
Mas, tudo que consigo, hoje, é pensar em silêncio e escrever
esse texto um tanto confuso, que reflete o meu desamparo diante das circunstâncias
da vida.
Se eu voasse na chuva e cantasse para o céu parar de chorar,
será que conseguiria mudar o estado das coisas?
Quem é de chuva, chove. Quem é de voar, voa.
Quanta força é necessária para impedir que a vida aconteça
se o que faz a vida ser o que é são os acontecimentos?
Hoje, me parece que não existe resistência quanto ao
destino.
A chuva cai. O pássaro voa. Eu olho para o céu. Nós três
fazemos aquilo que sabemos fazer.
Se eu chovesse como chove o céu, já teria morrido seca de
tanto chorar.
Se eu voasse na chuva como os pássaros, eu estaria com frio
n’alma e meu canto de amor seria confundido com um pedido de socorro.
Eu olhei para o céu e não encontrei o azul, que acalma o meu
espírito, ou as nuvens brancas e fofas.
O céu está cinza. Sem graça.
Se pudesse, eu acho que o céu teria se mudado hoje para
outro lugar, onde ninguém ficasse olhando pra ele à espera de uma explicação
sobre o sentido das coisas serem como são.
Se pudesse, talvez ele dissesse:
- Eu não posso fazer nada por vocês. Não tenho controle
sobre a vida, vocês ainda não perceberam? Voem, Não esperem nada de mim. Façam
como os pássaros! Cantem! Não esperem a chuva passar...
Mesmo assim, apesar da vontade de não querer ser céu, ele é.
Apesar do que possa aparentar, ainda olhamos para ele e
pedimos, rezamos e imploramos.
– Céu, me ajude a entender o mundo em que eu vivo!
Bobagem pedir isso, eu sei. Você também devia saber.
Se nem o céu imenso, com seu olhar sobre todas as coisas,
pode escapar da sua realidade, o que dizer de nós?
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