Dia 10 de dezembro, a escritora Clarice Lispector faria 98 anos.
Em uma entrevista concedida a TV Cultura, em 1977, ela disse que não se considerava uma escritora profissional. O entrevistador indagou: - E porque não?
- Eu sou amadora e faço questão de ser amadora. Profissional é aquele que tem obrigação consigo mesmo de escrever ou com o outro.
Pegando carona nessa onda, faço das minhas palavras as dela para justificar o meu atraso ao escrever esse post. Não sou uma escritora profissional, só escrevo quando eu quero e, naturalmente, quando eu posso. E nem sempre as duas coisas coincidem.
Mas, apesar disso, eu jamais poderia deixar de escrever algo sobre essa escritora singular e vou contar o porquê?
Há poucos dias, eu recebi o convite de uma amiga para mediar o encontro “Todas por Elas na Literatura”, que terá como tema principal o primeiro livro publicado por Clarice Lispector, “Perto do Coração Selvagem” e, desde então, tenho lido tudo o que posso sobre a autora.
Os meus amigos – preciso reconhecer – têm sido extremamente generosos e contribuem para o meu saber me enviando vários artigos.
Dois deles até se dispuseram apresentar uma pequena cena de teatro para tornar o encontro mais interessante.
Quanto mais eu estudo sobre Clarice, quanto mais eu leio suas crônicas, contos e livros, mais eu quero. É um mergulho profundo e nunca me falta ar.
Ela era uma mulher dotada de um olhar misterioso e uma voz que parecia sair das profundezas. Você já ouviu a voz dela? É de arrepiar.
Foi um espanto quando a ouvi pela primeira vez e até cheguei a me sentir incomodada. Porque ela estava falando assim? Eu pensei.
Era como se cada palavra estivesse sendo pensada, medida e, ainda assim, saísse meio a contragosto da sua boca.
Foi quando lembrei que ela costumava dizer que ficaria “contente se fosse lida apenas por pessoas de alma já formada”.
Ops! Nessa hora, eu parei de prestar atenção na voz e passei a ouvir com o meu coração o que ela estava dizendo.
Ela era uma mulher incomum.
Não se preocupava em ser compreendida (dizia que às vezes também não conseguia se compreender) mas parecia ter um prazer especial em provocar inquietações.
Ler Clarisse não é simples.
Só passei a compreendê-la quando percebi que aquilo que estava sendo dito muitas vezes não estava escrito.
Foi necessário disposição para entender os espaço entre uma palavra e outra.
São nesses espaços – que ouso comparar aqueles momentos íntimos, cotidianos, em que estamos sós e certos de que ninguém está nos olhando – que a verdadeira história se constrói.
E, quando percebi isso, finalmente me dei conta do que pode ser o universo dessa grande escritora, onde fatos e personagens parecem apenas pretextos para tratar de um assunto que coloca nós, seres humanos, no mesmo patamar: os sentimentos.
Então, para compreende- la ( e eu quero muito!) eu preciso ainda fazer um esforço de coragem para olhar dentro de mim e não sentir medo do que vou encontrar.
Eu entendo que é a isso que ela se referia quando dizia “alma já formada”.
Apenas desconfio que seja isso, mas se você me perguntar se estou certa disso, responderei que não sei. Não sei disso e não sei de muitas coisas.
Cada vez mais coisas, eu não sei.
Aliás, tenho andado com muitas dúvidas que, se existe algo que me assemelha a Clarice nesses tempos, é a capacidade incansável que eu estou tendo de me questionar.
Em alguns momentos eu chego a ficar irritada comigo mesma e, tenho certeza, que também irrito outras pessoas. Porque eu sei disso?
Pelas respostas que recebo. Muitas delas assim... – Mas, isso é ÓBVIO!
Como se apenas eu não estivesse enxergando algo tão, naturalmente, claro e transparente.
Não estou conseguindo evitar a sensação de deslocamento.
Se é óbvio para todos porque não é para mim? Lendo Clarisse eu tenho sentido uma certa tranquilidade quanto a isso.
Ela me faz pensar que o óbvio pode ser apenas preguiça ou incapacidade para enxergar o ser humano e a vida em toda sua complexidade.
A morte é óbvia. A morte das ideias, do amor, da fé...
A morte que começa com a falta de coragem para questionar e o medo de olhar para o outro e para si mesmo.
A morte que dá lugar ao óbvio no dia em que a esperança deixa de buscar o inesperado.
Clarice não era óbvia. Eu também não quero ser.
Os meus amigos – preciso reconhecer – têm sido extremamente generosos e contribuem para o meu saber me enviando vários artigos.
Dois deles até se dispuseram apresentar uma pequena cena de teatro para tornar o encontro mais interessante.
Quanto mais eu estudo sobre Clarice, quanto mais eu leio suas crônicas, contos e livros, mais eu quero. É um mergulho profundo e nunca me falta ar.
Ela era uma mulher dotada de um olhar misterioso e uma voz que parecia sair das profundezas. Você já ouviu a voz dela? É de arrepiar.
Foi um espanto quando a ouvi pela primeira vez e até cheguei a me sentir incomodada. Porque ela estava falando assim? Eu pensei.
Era como se cada palavra estivesse sendo pensada, medida e, ainda assim, saísse meio a contragosto da sua boca.
Foi quando lembrei que ela costumava dizer que ficaria “contente se fosse lida apenas por pessoas de alma já formada”.
Ops! Nessa hora, eu parei de prestar atenção na voz e passei a ouvir com o meu coração o que ela estava dizendo.
Ela era uma mulher incomum.
Não se preocupava em ser compreendida (dizia que às vezes também não conseguia se compreender) mas parecia ter um prazer especial em provocar inquietações.
Ler Clarisse não é simples.
Só passei a compreendê-la quando percebi que aquilo que estava sendo dito muitas vezes não estava escrito.
Foi necessário disposição para entender os espaço entre uma palavra e outra.
São nesses espaços – que ouso comparar aqueles momentos íntimos, cotidianos, em que estamos sós e certos de que ninguém está nos olhando – que a verdadeira história se constrói.
E, quando percebi isso, finalmente me dei conta do que pode ser o universo dessa grande escritora, onde fatos e personagens parecem apenas pretextos para tratar de um assunto que coloca nós, seres humanos, no mesmo patamar: os sentimentos.
Então, para compreende- la ( e eu quero muito!) eu preciso ainda fazer um esforço de coragem para olhar dentro de mim e não sentir medo do que vou encontrar.
Eu entendo que é a isso que ela se referia quando dizia “alma já formada”.
Apenas desconfio que seja isso, mas se você me perguntar se estou certa disso, responderei que não sei. Não sei disso e não sei de muitas coisas.
Cada vez mais coisas, eu não sei.
Aliás, tenho andado com muitas dúvidas que, se existe algo que me assemelha a Clarice nesses tempos, é a capacidade incansável que eu estou tendo de me questionar.
Em alguns momentos eu chego a ficar irritada comigo mesma e, tenho certeza, que também irrito outras pessoas. Porque eu sei disso?
Pelas respostas que recebo. Muitas delas assim... – Mas, isso é ÓBVIO!
Como se apenas eu não estivesse enxergando algo tão, naturalmente, claro e transparente.
Não estou conseguindo evitar a sensação de deslocamento.
Se é óbvio para todos porque não é para mim? Lendo Clarisse eu tenho sentido uma certa tranquilidade quanto a isso.
Ela me faz pensar que o óbvio pode ser apenas preguiça ou incapacidade para enxergar o ser humano e a vida em toda sua complexidade.
A morte é óbvia. A morte das ideias, do amor, da fé...
A morte que começa com a falta de coragem para questionar e o medo de olhar para o outro e para si mesmo.
A morte que dá lugar ao óbvio no dia em que a esperança deixa de buscar o inesperado.
Clarice não era óbvia. Eu também não quero ser.
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