Último post do ano.
Nesta época, sempre me bate uma nostalgia. Enquanto alguns amigos estão ansiosos pelo novo, eu sempre me pego tentando agarrar as últimas migalhas do velho ano que não voltará mais.
Sou apegada até mesmo quando o ano não foi dos melhores, acho que lá no fundo é apenas medo do desconhecido.
Quando o ano termina sinto uma sensação de morte e, pensando bem, realmente é.
Os sonhos, planos, projetos e expectativas que eu tive já não serão os mesmos no futuro, pois terão perdido a sua inocência inicial que ficará para sempre como uma lembrança do passado.
Isso é uma espécie de morte também. Morte da inocência sobre tantas certezas que eu tive.
Isso, talvez, explique a minha dificuldade de desapegar do ano quando chega ao fim.
É uma espécie de saudade antecipada por tudo que vivi ou não vivi.
Mas, de todas as mortes essa, talvez, seja a menos definitiva, sempre há possibilidade de resgatar a essência daquilo que um foi e, com isso, voltar a sê-lo.
Em 2018, assim como a maioria das pessoas, deixo alguns episódios "definitivamente" muito mais tristes, um deles foi à morte de uma amiga.
Agora você deve estar pensando: - Daniela, com tantas festas para planejar e o sol radiante brilhando no céu, não é tempo de falar em morte!
Sempre é tempo de falar sobre todas as coisas, imagine a morte que, por enquanto, é a única única coisa certa nesta vida.
Falar da morte ainda é um tabu. Parece papo de gente triste, mas garanto que não é o meu caso agora.
Outro dia eu estava assistindo um programa na TV onde um super entendido na psicologia humana, de quem eu não me lembro o nome, disse que o ser humano vê a morte como um fracasso, por isso, evita falar sobre ela.
Eu acho que ele tem lá sua razão, não existe ninguém no mundo que venceu a morte, mas será que o sentimento de fracasso é inevitável?
Pensando sobre isso, me veio a cabeça o epitáfio do escritor Mario Quintana: “Eu não estou aqui”.
Se você não sabe porque nunca precisou saber, epitáfio é aquela frase escrita na lápide do cemitério.
Quintana, autor de várias frases e poemas inspiradores e bem humorados, pediu que escrevessem na sua lápide: EU NÃO ESTOU AQUI.
Essa frase pode ser uma pista, eu pensei.
E comecei a divagar: - O que ele quis dizer com isso? Que não estava sob a lápide? Não estava embaixo da terra?
Que brincadeira, que mistério, que presepada é essa?
O que o autor do Poeminho do Contra estava querendo sugerir quando pediu para escrever essa frase em sua lápide: “Eu não estou aqui!”?
Curiosa, eu comecei a pesquisar o sentido desta frase. E achei no youtube uma palestra do professor e filósofo Mário Sérgio Cortella – muito mais inteligente do que eu – que, ao se referir ao epitáfio do escritor, chegou a uma conclusão que fez sentido para mim.
Ele explicou que a pessoa só morre quando ela é esquecida, portanto, Mário Quintana não está naquela lápide. Ele não foi esquecido.
Isso acontece com todas as ideias, projetos e pessoas que amamos. Enquanto nos lembrarmos deles, estarão vivos.
Se isso é verdade e eu acredito que sim, o significado da morte não é ausência e sim esquecimento.
Depois disso, passei a me fazer outra pergunta.
- O que eu devo fazer para não ser esquecida?
Afinal, a fila anda tão rápido... Estamos na época dos amores líquidos e tal.
Eu tenho um palpite e pretendo segui-lo.
Para não ser esquecida eu devo estar mais disposta a abrir o meu coração.
Neste espaço – tão pequeno quanto infinito – devo registrar as lembranças que manterão vivas as pessoas que eu amo mesmo muito tempo depois das suas mortes.
Espero que, seguindo o meu exemplo, elas façam o mesmo.
Feliz 2019 para nós!
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