Quando ele abriu a porta eu estava pronta para pular no pescoço dele e contar como tinha passado uma noite horrível, sozinha, sentido a cama grande e gelada.
Eu estava preparada para lhe dizer sobre as três vezes em que desci a escada, assustada com os barulhos da noite e depois quando percebi que eram apenas as sementes de açaí que caiam da árvore por causa do vento silencioso e constante que soprava do lado de fora.
Do quanto me senti estranhamente solitária ao abrir uma cerveja gelada na madrugada na tentativa de preencher um vazio deixado pela ausência dele.
Mas, eu ouvi o barulho da porta do carro, as suas palavras se despedindo de alguém que eu não conheço e o som do portão abrindo e fechando.
Ouvi quando ele deu as boas- vindas aos gatos, os passos em direção a porta de casa e durante todo esse tempo eu permaneci presa ao sofá.
Eu estava à espera dele.
E quando a porta se abriu, vi ele chegar tão feliz e cheio de energia, tão disposto a entrar no meu mundo, sentar ao meu lado, dividir a pipoca, que eu senti raiva.
Não era isso que eu esperava?
Eu deveria ter ficado feliz, mas de repente bateu um grande desânimo.
Não queria ser essa pessoa, sozinha, deitada de pijama em um sofá grande e confortável, assistindo programas de decoração de casa e comida para fugir dos noticiários, do pessimismo e de verdades que já não quero mais ouvir.
Me menosprezei, me senti velha e em uma vidinha boba e monótona. Senti medo.
Até quando ele continuaria a chegar feliz em casa, depois das viagens de trabalho, para encontrar comigo à sua espera?
Ele não pareceu se incomodar com nada disso ou fingiu bem, chegou mais perto de mim com um sorriso lindo e me beijou.
Eu perguntei se estava com fome, ele respondeu que não. Deitou no sofá ao meu lado e, quando olhei, ele estava dormindo.
Eu deixei ele descansar, enquanto a paz voltava ao meu coração. Quando a noite já ia tarde, o convidei para subir e fomos juntos para a cama.
Nenhum comentário:
Postar um comentário