Ouvi os tanques passando lá fora, explosões de bombas e os
passos dos inimigos cada vez mais próximos.
Eu não vi, mas ouvi todos esses sons de uma forma muito real
e posso jurar que eles tinham o ritmo das batidas do meu coração.
Isso aconteceu há três meses, quando me coloquei em estado
de guerra para proteger a mim e a minha família de um vírus desconhecido e
mortal.
Quando essa pandemia começou eu queria ter pego as armas e
ido à luta, gostaria de ter sido aquela que agiu com coragem e bravura, mas não.
Quem me conhece sabe que sou praticamente uma hipocondríaca
e neste caso, pra agravar a minha loucura, eu descobri que tenho estrias no
pulmão.
Isso bastou para que eu me colocasse logo no grupo de risco.
Nos primeiros dias, eu acordava e respirava forte por três vezes.
Se alguém passasse na porta do quarto poderia achar que eu estava
meditando ou exercitando os pulmões, mas era apenas para ter certeza de que ainda
estava respirando bem.
Sem saber quanto tempo ainda teríamos no mundo que conhecemos hoje, eu trouxe os meus filhos para casa.
Eles estavam morando em outras cidades quando a pandemia
começou e fiquei com muito medo de que algo acontecesse enquanto estivéssemos
separados, apesar deles me assegurarem de que estavam bem.
Para busca-los eu organizei uma viagem que foi quase uma
odisseia, principalmente desinfetei todo o carro com um pano molhado em água e
sabão, todo o carro mesmo.
Lógico que separei luvas e máscaras para nos protegermos uns
dos outros pelo menos até chegarmos em casa, tomarmos banho e termos certeza de
que estávamos bem.
Desde então, aqui em casa muita coisa mudou, como acredito
que na maioria dos lares mundo afora.
A maior mudança foi eu ter me transformado em uma “QUASE” cozinheira,
já estou dando receitas de bolinho de chuva.
Passei a pilotar o fogão quando percebi que posso conquistar
meus filhos pelo estômago e mantê-los felizes dentro de casa.
Eu também tenho tentado me controlar, observar e falar com
eles de forma leve e mais positiva porque não quero transformar a nossa casa em
um lugar de tensão e discórdia.
Quem sabe o que pode nos acontecer amanhã ou nos próximos
dias?
O tempo tem passado ora devagar, ora rápido demais.
Eu tenho medo de me acostumar a viver com medo e chegar o
dia em que não vou me abalar com a dor daqueles que sofrem mais do que eu.
Além de medrosa, eu posso me tornar uma pessoa insensível? Não
sei o que seria pior.
Fico pensando se isso acontece com as pessoas que vivem num
país em guerra, se com o tempo elas se acostumam com as explosões das bombas, as
destruições das casas, as mortes de pessoas inocentes e param de sentir medo?
Eu não sei a resposta.
Mas, estou achando que é melhor sentir medo do que não
sentir nada.
Com certeza, melhor que ser insensível é sentir medo...passo por isso também todos os dias, mas diferente de voce, só consegui trazer meu filho para perto de mim...as meninas estão em suas casas com seus maridos e pets...enviei muitas máscaras para todos e foi só isso que pude fazer...oro muito, todos os dias para todos, mas principalmente para aqueles que são orientados a permanecerem em casa e...que casa?..nem sequer casa eles tem...somos privilegiados por isso e temos que colocar em prática oque sempre enchemos a boca para dizer "ninguém larga a mão de ninguém"...descobrindo talentos...voce na arte da "quase Chefe de cozinha" e eu "quase "estilista de máscaras e aventais para profissionais da saúde ...c'est la vie...amo ENCANTES...bj
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