quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

O Olho Mais Azul, de Toni Morrison


Faz tempo que eu não escrevo uma resenha de livro, mas hoje decidi escrever sobre um dos meus favoritos “O Olho Mais Azul, da escritora americana Toni Morrison. É a minha homenagem à autora que estaria completando hoje 90 anos.

Morrison demorou cinco anos para concluir a história, inspirada em lembranças da sua juventude numa comunidade miscigenada, em Ohio.

Eu recebi esse livro da TAG Curadoria, um clube de assinaturas do qual participo, pela indicação de Djamila Ribeiro, e quando comecei a ler, não consegui mais parar.

Não é uma história alegre, mas necessária a todos porque traz reflexões profundas sobre as marcas deixadas pela história.

Tão profundas que ainda levam milhares de pessoas – inclusive, crianças – a buscarem ideais de beleza como se isso fosse necessário para serem aceitas na sociedade.

O que é a beleza, afinal?

Para Pecola Bredlove, personagem desse livro, uma garotinha preta e de cabelo crespo, é ser igual à atriz mirim Shirley Templo. Ou seja, loira e de olhos azuis.

Pecola, como diz a autora, vive dentro de uma “família devastada e devastadora”, onde está vulnerável a todo tipo de violência – física e psicológica - e sente aversão por sua aparência.

Em formato de uma investigação, com diversos depoimentos, esse romance busca descobrir quem foram às pessoas que fizeram Pecola sentir- se feia e inadequada.

No entanto, não é um processo de demonização, de encontrar culpados. As pessoas que destruíram Pecola são humanizadas, o que torna a história ainda mais difícil de digerir.

“Quem a tinha olhado e a achado tão deficiente, um peso tão pequeno na escala de beleza?”.

Perguntas como essa aparecem na história e servem para nos fazer refletir sobre o peso das palavras e como “brincadeiras inofensivas” causam traumas permanentes e até determinam como uma pessoa se vê e se comporta diante do outro.

Será que temos sido melhores do que as pessoas que destruíram Pecola?

Aviso de gatilho, se não está preparada (o) para encarar uma realidade cruel é melhor não ler esse livro.

No entanto, se busca  reflexões sobre raça e desigualdade, eu o indico fortemente.

Vou destacar uma das frases mais lindas desse romance, na minha opinião, claro!

“Quem é mau, ama com maldade, o violento ama com violência, o fraco ama com fraqueza, gente estúpida ama com estupidez, e o amor de um homem livre nunca é seguro. Não há dádiva para o ser amado. Só o amante possui a dádiva do amor”.


Um pouco sobre a autora - Chloe Anthony Wofford, conhecida por Toni Morrison, foi uma escritora norte-americana e a primeira mulher negra vencedora do prêmio Nobel de Literatura, em 1993.

Nascida em Lorain, estado de Ohio, ao norte dos Estados Unidos, 18 de fevereiro de 1931, era filha de um soldador e de uma dona de casa. Estudo inglês e literatura clássica na universidade de Howard.

Casou-se com o arquiteto jamaicano Harold Morrison, com quem, apesar do curto tempo de relacionamento, teve dois filhos. Toni deixou o marido quando ainda estava grávida do segundo, e teve que encontrar uma saída rápida para se sustentar enquanto mãe solteira.

Surgiu, então, a oportunidade de trabalhar na famosa editora Random House, que colocou Toni em um ambiente até então estranho para ela – um mundo de agentes, editores e escritores.

Toni Morrison faleceu aos 88 anos, no dia 5 de agosto de 2019.

 

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